quinta-feira, 13 de novembro de 2014

O "espiritismo" e sua noção de "progresso social"

ADIANTA DAR SÓ CESTAS BÁSICAS E PALAVRAS DE AMOR A MORADORES SEM-TETO?

A indústria de "palavras de amor" e a glamourização do sofrimento humano que são a praxe do "espiritismo" brasileiro impede que o progresso social se efetive de maneira satisfatória e definitiva, sendo restrito a medidas paliativas que só resolvem provisoriamente os problemas.

Além das "mensagens fraternais" que só chegam tardiamente depois dos muitos prantos das tragédias ocorridas, quase uma manifestação cínica de consolação, o que se vê são ações "filantrópicas" que apenas provisoriamente atendem às necessidades dos desafortunados, ou, sendo mais claro, os miseráveis.

O "espiritismo" brasileiro não estimula o raciocínio intelectual, desencoraja o questionamento, intimida a indignação e reprova até a depressão. Essa doutrina deprime, com muitas palestras maçantes e até tristes, e nós é que temos que sorrir e achar tudo lindo e maravilhoso, quando muito chorando de comoção e "alegria" pela mensagem transmitida.

Enquanto isso, também não há pesquisas sérias e eficientes sobre a vida espiritual, não há estudos sobre os problemas sociais sob a ótica da Doutrina Espírita e tudo fica na mesma, dentro de um viciado religiosismo paternalista e moralista.

O que esperar do "nosso espiritismo" em termos de progresso social? Nada, senão medidas paliativas, consolos tardios e hipócritas, e todo um teatrinho de falsa humildade, falsa generosidade em que letras mortas povoam um enxame inesgotável de mensagens "fraternais" que só servem para vender livros e lotar "centros espíritas".

Doar cestas básicas e roupas é, em tese, uma atitude louvável e saudável, mas até que ponto o material a ser doado vai realmente para as populações carentes ou a simples doação traria a eles algum conforto mais efetivo e alguma melhoria mais duradoura?

Será que também não podem existir casos de "centros espíritas" que desviam uma boa parte das roupas doadas para serem vendidas em brechós, garantindo lucros pessoais para seus dirigentes? Ou então os alimentos a serem desviados para mercadinhos de menos categoria?

Mas, independente desses processos desonestos haverem ou não, será que a simples doação, acrescida das "palavras desencarnadas" que falam em "amor e caridade", irá trazer alguma qualidade de vida para as populações sofridas? Na realidade, não existe qualquer garantia quanto a isso.

"Palavras de amor" não consolam as pessoas que perderam entes queridos. A perda, muitas vezes, gerou danos irreparáveis e vai um texto "espírita" dizer que isso é lindo porque trará bênçãos futuras, e é evidente que isso soa como uma gozação àqueles que sentem falta de seus falecidos. "Eu estou sofrendo horrores e vem vocês dizendo que sou abençoado por isso? Vão se catar!", dirá talvez.

E se as doações cessarem? Será que vamos ter que depender sempre de doações incessantes, enquanto os miseráveis continuam desprovidos de condições e oportunidades de autossustentação? Não seria melhor estimular os miseráveis a agirem por conta própria, em vez de nos limitarmos a doar o que não nos serve para atender às suas necessidades?

Por isso pessoas como o educador Paulo Freire dão um banho de caridade a astros do "espiritismo" como Chico Xavier. O método educacional de Paulo Freire, para alfabetização de adultos, inclui tanto a leitura conscientizada e questionadora, a compreensão da realidade, a capacidade de lutar pela sobrevivência própria e a solidariedade das pessoas de uma comunidade para resolver problemas.

E é uma solidariedade ativa, não a passiva de doar coisas sem resolver as desigualdades sociais. O Método Paulo Freire envergonharia os chiquistas porque tudo o que Chico Xavier pôde fazer foram dar palavrinhas de amor e algumas "bondades", muitas vezes consolando tardiamente os outros pela tragédia ocorrida e sem trazer qualquer coisa transformadora para as vidas humanas.

O "espiritismo" que chega tarde consolando em vão os outros pelas tragédias ocorridas e nada faz mais do que doar alimentos e roupas não traz transformação profunda para as pessoas. A desculpa do "autoconhecimento" e da "reforma íntima" mais parece uma forma adocicada de pregar o conformismo e até mesmo o masoquismo religioso, o "autoflagelo" espiritual da aceitação do sofrimento.

Problemas existem não para que achemos eles lindos e maravilhosos. Sofrimentos e dores existem não para a gente dizer o quanto eles são fascinantes. Eles existem porque a vida é complexa e teremos que buscar algo para resolvê-los e superá-los de uma forma ou de outra.

Por isso não bastam o falso consolo das "palavras de amor", a falsa transformação moral da "reforma íntima" e a falsa revolução das doações. Se não encararmos de frente os problemas, independente de acharmos se é melhor somente a reforma individual ou a reforma coletiva ou "dos outros", nada se resolverá e periga das pessoas se afogarem tragicamente pela "doce" enchente de "palavras de amor".

Os problemas da humanidade são muito sérios e graves para serem resolvidos dessa maneira acomodada com que faz o "espiritismo" brasileiro e sua indústria de "palavras de amor" e de paternalismos paliativos.

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