sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Água que descia em estátua de Chico Xavier foi tida como "milagrosa"


A imagem divinizada que Francisco Cândido Xavier tem de seus fiéis, como se fosse uma espécie de "santo", chegou a ser reforçada por rumores de que uma "água milagrosa" teria escorrido da estátua que fica junto a seu mausoléu, em Uberaba, na região do Triângulo Mineiro.

A água teria caído do lado direito do busto, entre a gola do paletó e o pescoço, e seu escorrimento teria três centímetros de comprimento. A água seria transparente e por isso muitos dos adeptos de Chico Xavier atribuíram o líquido um poder miraculoso.

No chamado "movimento espírita", no entanto, a ideia de milagre não é aceita e um dos filhos adotivos de Chico, Eurípedes Higino, disse que está havendo uma "exploração da fé das pessoas", não vendo qualquer coisa especial nessa água.

A Federação "Espírita" Brasileira também não vê verdade nisso, como disse a então diretora da entidade, Marta Antunes Moura: "Cada um tem o direito de ter sua interpretação, de ter sua fé individual, mas não confio que se trate de uma verdade. De qualquer forma, a fé transporta montanhas e, se essas pessoas encontram a fé nesse água, que elas busquem sua fé da melhor maneira."

Chico sempre foi objeto, vivo ou depois de morto, de um culto devocional que se compara aos ícones católicos, já que o anti-médium sempre foi devoto dessa religião - ele deixou claro na sua entrevista ao Pinga-Fogo da TV Tupi de São Paulo, em 1971 - e só foi hostilizado por setores católicos mais ortodoxos, o que superestimou o estigma do "espiritismo" brasileiro como "anti-católico".

Segundo o portal G1, que havia publicado uma reportagem a respeito do aniversário de 100 anos de nascimento de Chico Xavier, em 02 de abril de 1910, e a peregrinação em torno do túmulo do anti-médium, falecido em 2002, a busca pela "água milagrosa" se dava de várias formas:

"Tem mãe que obriga o filho a encontrar a água e passar imediatamente em alguma parte do corpo adoecida, homens que rezam para que a água verta da peça naquele momento para que possam testemunhar o feito, além de outras que passam a mão na estátua e saem sorridentes com a sensação de ter conquistado algo espitualmente elevado" descreve a reportagem.

Segundo Higino, em entrevista ao G1, a água que escorre no busco resulta da umidade da peça após o trabalho rotineiro de lavagem. Muitas flores molhadas pela rega são colocadas ao redor da estátua, o que favorece o escorrimento. Higino não admite que essa ideia seja associada ao "espiritismo".

MITIFICAÇÃO

Embora a FEB e os adeptos e colaboradores de Chico Xavier rejeitem a ideia de "água miraculosa" e não admitam a tese de que o "espiritismo" manifesta processos sobrenaturais ou feitos milagrosos, a mitificação do anti-médium contribuiu muito para isso.

São atos extremos e exagerados que são reflexo da própria idolatria e da própria imagem que a FEB trabalha de Chico, promovido a um cem-número de habilidades, várias delas corroboradas nos "centros espíritas", que não correspondiam à realidade.

Biografias que narram situações surreais de Chico Xavier - como ele voando sobre as águas ou sendo "sugado" no "além" para viver, como "espírito puro", ao lado de Jesus - , reforçam esse mito, daí que a FEB, "sem querer querendo" (parafraseando o humorista Roberto Bolaños, que regressou ao mundo espiritual), acabou permitindo um "mico" desses.

A FEB prefere que mitificações "mais realistas" atribuídas a Chico Xavier sejam mantidas em crédito. Já é muito ter que atribuir a um mero sonho de algumas horas de sono em 1969 uma suposta profecia dos destinos da humanidade da Terra, em que cabe até fazer supostas previsões de ordem geopolítica, geológica e histórico-científica.

Que os "espíritas", com seu neo-catolicismo dotado de hibridismos mas de pedantismo supostamente científico, fiquem apenas com o mito de Chico Xavier transformado em filósofo, psicólogo, cientista, sociólogo, professor e profeta dos futuros tempos, onde se fantasia o mito do anti-médium mineiro de forma piegas e sentimental, mas "com categoria".

O grande problema é que esses mitos também fantasiam demais a imagem de Chico Xavier, já promovido a "semi-deus" a partir dessas atribuições "realistas". E, num momento ou em outro, o Chico Xavier "cientista" e "filósofo" vai sempre deixando cair a tal "água milagrosa". A fantasia é sempre uma forma de perder o controle das coisas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...