sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Desventuras de um tratamento espiritual - II


Mais uma mensagem chegou até nós de um rapaz que havia feito um tratamento por correspondência para o Templo Espírita Tupyara, localizado no bairro do Engenho Novo, no Rio de Janeiro, há cerca de dez anos atrás.

O jovem, morador de uma capital nordestina, havia exposto seu problema na vida: dificuldade de emprego e de ascensão sócio-profissional. Achava que o tratamento por correspondência iria dar algum resultado favorável. Ele decidiu pelo tratamento por sugestão da mãe.

Paralelamente, ele tomou conhecimento da abertura de um concurso para uma conhecida autarquia federal, num cargo que lhe causou grande interesse não apenas pelo salário atraente de R$ 2.700 na época, meados de 2005, mas pelas possibilidades de realização que o cargo público iria lhe proporcionar.

Ele mandou a carta para o Tupyara. Topou em fazer o tratamento. Dias depois, recebeu a resposta e o procedimento para o tratamento espiritual. Fez todas as recomendações. Manteve-se tranquilo. Ficou bastante esperançoso.

Depois, ele se inscreveu para o concurso. A autarquia, na filial de sua cidade, prometia oferecer sua biblioteca para os candidatos estudarem. A bibliografia já estava indicada no edital. A prova parecia não ser muito difícil, pelo menos para ele, e tinha assuntos que poderiam não ser de sua especialidade, mas que ele seria capaz de aprender.

Ele fez o tratamento, comprando folhas de arruda, sal grosso e tudo. Permaneceu em prece, pensou em coisas boas, manteve-se disposto e gentil para sua família e amigos, manteve-se esperançoso o tempo todo.

Mas aí vieram as dificuldades. Uma biblioteca entrou em greve. Ele encontrou dificuldades para pegar os títulos indicados pela bibliografia. A biblioteca da autarquia não teve funcionário disponível para atender aos candidatos. A Internet era insuficiente para ele conseguir cobrir todo o programa de estudos.

Aí chegou o dia da prova. Ele até se esforçou para fazer as questões corretamente, na prova objetiva, apesar de algumas questões confusas e uma com resposta mal bolada. Já a prova discursiva apresentou três questões que ele não conseguiu redigir com acerto, já que os enunciados eram muito vagos e ele não havia estudado os assuntos dessas questões.

Com isso, veio o resultado da prova objetiva. De 60 pontos totais, ele acertou 48, o que lhe parecia um bom sinal. Mas a prova discursiva era eliminatória, e ele precisaria acertar pelo menos 60% da prova discursiva para estar na lista de aprovados, mas do total de 40 pontos ele acertou apenas 15.

Ele enviou os recursos, ou seja, mensagens pedindo a revisão de avaliações ou questões das provas, conforme orientado pelo edital do concurso. Pediu mesmo para que se anulasse a questão que foi mal formulada, que tinha duas das cinco opções para assinalar dadas como respostas corretas.

O jovem não foi acatado. Semanas depois, a lista final do concurso revelou que o rapaz havia sido reprovado, e que os recursos haviam sido indeferidos pela organizadora do concurso. Triste e revoltado, o jovem contemplava a lista dos aprovados, sem ver seu nome entre eles.

Meses depois, ele mandou uma carta para o Tupyara desabafando os infortúnios, mas veio uma resposta que apenas o aconselhou a orar. Nunca conseguiu um concurso igual ao da autarquia, e continuou penando sem que conseguisse um resultado favorável, por mais que batalhasse.

As únicas propostas de emprego que encontrou se limitaram a um jornal comunitário de um subúrbio perigoso - o editor tinha um litígio com inimigos pessoais - e conselhos que recebia para procurar uma rádio local, surgida de um esquema de corrupção e controlada por um ex-prefeito que havia feito um desvio de verbas usando empresas fantasmas.

Esta rádio era tida como "conceituada", mais pelo lobby que o proprietário e ex-prefeito fazia com as classes dominantes locais do que por alguma competência natural de sua programação, por sinal tendenciosa e ideologicamente instável,

A situação, portanto, não é garantia de boas possibilidades profissionais para o rapaz, que, se aceitasse a proposta, se envolveria em uma cilada, tendo que seguir as regras da empresa (que um dia são uma coisa, noutro variam completamente), e para piorar o seu dia de aniversário era o mesmo do ex-prefeito marcado pela corrupção.

O que é procurar a luz e encontrar mais trevas...

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