terça-feira, 14 de abril de 2015

A competição entre fé e ciência nas curas de doenças


A série de reportagens da TV Bandeirantes, nesta semana, mostra os episódios de cura do câncer através da religião, citando várias crenças religiosas, entre elas a "espírita". São relatos que, aparentemente, revelam o sucesso da fé na realização de curas dessa doença difícil, curável apenas quando está em estágio inicial, considerado benigno.

Embora haja possibilidade de haver curas espirituais e que o sentimento de tranquilidade consequente da fé de algumas pessoas seja capaz de realizar curas - se relacionando mais ao fenômeno de autocuras do que da religiosidade em si - , nota-se uma certa disputa entre fé e ciência no que se refere às curas de doenças.

O Brasil, país ainda marcado por uma religiosidade bastante conservadora, de tradição lusitana, que ainda guarda valores medievais, tenta exercer a prevalência do proselitismo religioso. No vácuo de um Catolicismo em crise, os ditos "evangélicos" e "espíritas" correm contra o tempo para conquistarem a supremacia religiosa, recorrendo até à imprensa para tal realização.

A Rede Globo tornou-se a principal parceira da Federação "Espírita" Brasileira e está preferindo apostar no "espiritismo", e não no Catolicismo, porque a tradicional religião romana-bizantina ficou muito visada, principalmente pelo visual de padres, sacerdotes e bispos.

A Globo percebeu que o apelo modernoso dos padres Marcelo Rossi e Fábio de Mello não puderam dar ao Catolicismo um apelo mais atraente para novos seguidores. Além disso, a medida ainda fazia com que o ranço religioso tirasse o aspecto aparentemente laico da emissora dos irmãos Marinho e iria superexpor a já problemática rivalidade com a Rede Record.

Dessa maneira, o "espiritismo", mais "independente" e sem os aparatos pomposos do Catolicismo propriamente dito, seria a "carta na manga" da Globo competir com a Rede Record, propriedade da Igreja Universal do Reino de Deus, sem que se comportasse como outra emissora "religiosa".

Já o "espiritismo" também precisa penetrar em outros canais e espaços midiáticos, até pela necessidade de uma divulgação mais ampla. E, uma semana depois do Profissão Repórter, agora recorre à concorrente TV Bandeirantes para fazer novos apelos.

E aí vemos o quanto é problemático o processo de curas apenas pela fé, rivalizando com a ciência "dos homens" e apostando em processos em que o mistério é o seu maior princípio. Alegações em favor do "mistério da fé" servem para dar um tom misticamente aceitável à falta de transparência que acontece nesses procedimentos.

O "espiritismo" que não estuda a Ciência Espírita e corrompe seus tratamentos espirituais, criando um processo seletivo de curas e resolução de problemas, às vezes com algum preço de azar na vida, torna duvidosos seus procedimentos de curas, baseados no ocultismo que se arroga a desafiar o conhecimento científico, sem mostrar transparência.

A total ignorância do Magnetismo de Franz Anton Mesmer - que não tem livro algum traduzido por aqui e, quando muito, só é vagamente citado por terceiros - e a falta de estudos para todo tipo de processo, dos passes à psicografia, o "espiritismo" brasileiro se transformou num vale-tudo de pessoas sacudindo as mãos sobre cabeças dos outros e pessoas com a mão na testa escrevinhando qualquer coisa igrejista.

Não há como ter confiabilidade. A fé acaba sendo uma forma de tornar confiável o que não traz confiança. Que transparência existe? Nenhuma. Tudo se reduz a uma mística religiosidade que, sabemos, agrada bem aos barões da grande mídia, que sempre apostam no conservadorismo religioso para amansar os brasileiros tensos nesse país em crise.

Só que isso não resolve. Até que ponto as curas espirituais existem? Até que ponto existem autocuras? Até que ponto fé pode se aliar à ciência para curar doenças? Nada disso é estudado, nada disso é verificado, acredita-se em qualquer coisa porque "ter fé é acreditar", mas acreditar naquilo que a gente não entende e aceita que fique sem explicação.

E assim a fé religiosa impõe sua arrogância de criar uma área do surreal, do absurdo ou do oculto, um terreno em que o raciocínio lógico não pode penetrar, a não ser para dizer "amém". Isso é mal. Cria-se um desnecessário litígio entre fé e ciência na busca de soluções e curas para doenças, sem que podemos buscar as verdadeiras soluções de maneira inteligente, coerente e transparente.

Dessa forma, a fé religiosa quer manter sua supremacia, com seus valores absurdos, com seus procedimentos duvidosos, nos quais só valem os resultados, conforme a frase de Niccolo Machiavelli sobre a maldade do príncipe: "os fins justificam os meios".

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