quinta-feira, 30 de abril de 2015

Fernando Collor será o "Bezerra de Menezes" do futuro?


O "espiritismo" é a doutrina do malabarismo das palavras. Ainda vamos explicar por que o amor e a solidariedade são ideias presas em sua retórica, quando sabemos que os melhores atos dispensam a obrigatoriedade das palavras e o "espiritismo", pelo contrário, usa e abusa das palavras "fraternais".

Suas fraudes e irregularidades usam como escudo todo um verniz de "fraternidade" e "caridade" que faz seus líderes e astros serem impunes. Do contrário que acontece no Primeiro Mundo, não há, ainda, quem se encoraje a investigar o charlatanismo que existe em práticas falsamente mediúnicas, como as cartas atribuídas aos mortos que só tem a assinatura do "médium" e a mesma mensagem religiosa.

Com isso, o "espiritismo" é o último reduto da permissividade no Brasil, em que o "espírita" pode tudo, até fingir que recebe uma barata morta e escrever uma mensagem religiosa atribuindo à autoria do inseto morto. Cria-se um vale-tudo surreal, fantasioso, pois o "espiritismo" é a Ilha da Fantasia das religiões brasileiras. Só não espere que seu desejo seja atendido, se você for alguém mais evoluído.

Isso porque até o "espiritismo" favorece mais os medíocres e corrompidos, aos quais cabe completar todo o recreio do livre-arbítrio de erros e maldades, uma espécie de "fiado" que a doutrina dá àqueles que são tomados pelos piores impulsos: paga-se uma ou duas encarnações depois, de preferência quando tiver consciência e necessidade de evolução.

Na política, tivemos o caso de Juscelino Kubitschek, o ex-presidente brasileiro que foi amigo de Francisco Cândido Xavier e a ele se dirigiu com respeito, consideração, generosidade e afeto. Ele lançou um decreto definindo a FEB como entidade de utilidade pública e foi bastante gentil com seus dirigentes.

E o que Juscelino recebeu com tudo isso? Azar! Ele teve um mandato de senador cassado, viu escapar a chance de ser eleito presidente, não foi eleito para a Academia Brasileira de Letras e ainda morreu em um acidente de carro. E ainda as más energias contagiaram até a filha Márcia Kubitschek ou mesmo o ator José Wilker (que interpretou JK em minissérie de TV), mortos ainda no auge de suas missões vitais.

Muitas pessoas evoluídas encontram infortúnios ou se expõem a adversidades das quais poderiam evitar ou estarem livres delas por algum motivo. Em compensação, os medíocres ou mesmo facínoras são dotados de uma sorte tal que não há encrenca que elimine seu prestígio, que pode ser mantido, mesmo com alguns arranhões.

Daí Fernando Collor de Mello, que fez um governo corrupto, teve um pano de fundo político bastante conservador, era um demagogo da pior espécie e tinha um projeto político impopular. Confiscou as poupanças dos brasileiros para pagar um estranho esquema de corrupção do tesoureiro Paulo César Farias, que mostrou indícios de alianças com mafiosos italianos ligados ao narcotráfico internacional.

Pois bem, Collor, mesmo impedido de completar seu mandato, condenado pelo impeachment à proibição de concorrer a qualquer cargo eletivo até 2000, Ele era apoiado por Chico Xavier, ao qual não deu mais do que uma momentânea e simpática consideração de alguém sem muita intimidade com o anti-médium.

Mas Collor deve ter se encaixado no tipo de político que agradava Emmanuel e, depois que voltou à vida política, passou por uma reabilitação vertiginosa em 2005, sendo apoiado pelas mídias sociais para a corrida para o Senado, foi eleito e se aliou a antigos rivais (como o ex-presidente Lula e o ex-líder estudantil Lindbergh Farias) e passou a ser respeitado por setores da esquerda e direita.

Collor simbolizou uma época de degradação cultural e até os ídolos musicais da época, duplas, cantores e grupos de "pagode romântico" e "sertanejo" que, na prática, faziam o pior da música brega travestido de samba ou música caipira, conseguiram ser reabilitados o suficiente para não largarem o osso mercadológico e até se passarem por "grandes nomes da MPB" sem sê-los de fato.

Os "Anos Dourados" da Era JK ruíram em muitos aspectos, enquanto a Era Collor parece não ter acabado, com a sua influência perdurando durante anos. E isso faz do ex-presidente Collor, se depender destas circunstâncias, um futuro beneficiário das manipulações que o revisionismo histórico poderia fazer em breve.

Será que ele atingirá a posteridade com uma imagem "pura" e "divinizada", tal qual o médico Adolfo Bezerra de Menezes tem hoje em dia? Bezerra foi "purificado" pelas manipulações discursivas que eliminaram o que havia de sombrio do político, militar e médico, e o reduziu a um personagem de contos de fadas, praticamente um "Papai Noel" para o ano todo segundo o "espiritismo" brasileiro.

O risco é esse, dentro de um Brasil que protege a mediocridade dominante no mercado e na mídia e permite os retrocessos sociais que vemos hoje e os quais a sociedade tem que encarar em silêncio, como diz Chico Xavier, o símbolo maior dessa religião que glamouriza o sofrimento e prefere proteger os medíocres e facínoras, deixando as provações para daqui a uns cem anos.

Será que, até lá, Fernando Collor será descrito como um espírito iluminado e íntegro que tentou melhorar o país mas foi escorraçado pelos seus perseguidores? Será que ele será "lapidado" pelo revisionismo histórico a ponto de se tornar "purificado" e "limpo" para a posteridade?

Temos que tomar muito cuidado com as palavras, porque as piores mentiras são aquelas que apresentam beleza e fluência nas palavras.

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