quinta-feira, 9 de abril de 2015

Profissão Repórter apela para clichês do "espiritismo" brasileiro

"ESPÍRITAS" EXPLORAM DE FORMA SENSACIONALISTA A DOR DOS QUE PERDERAM JOVENS FAMILIARES.

O "movimento espírita" foi mais uma vez assunto na grande mídia, e a Rede Globo promove a doutrina de tal forma que a gente desconfia se a emissora dos irmãos Marinho está usando o "espiritismo" da FEB para se contrapôr ao neopentecostalismo da Rede Record e suas milícias de "Gladiadores do Altar", espécie de "pitboys de Cristo".

Em que pese seu compromisso com a honestidade jornalística, o Profissão Repórter comete falhas sérias, não apenas porque Caco Barcellos, profissional de competência indiscutível, é obrigado a seguir a cartilha das Organizações Globo, mas a própria boa-fé da equipe em trabalhar pautas tendenciosas como o "funk", o "sertanejo" e, agora, o "espiritismo".

Difícil não entrar no terreno do sensacionalismo na edição do último dia 07 (07 de abril de 2015, para facilitar a consulta do Google), dedicada a reportar a "mediunidade", as "cartas psicografadas", a "caridade espírita" e as "curas espirituais". O programa se dedica a explorar os mesmos clichês batidos que marcam o "movimento espírita" brasileiro há mais de cem anos.

Dentro de um processo em que a fé religiosa serve de pretexto para acobertar irregularidades, a reportagem mostra vários casos: o trabalho do "médium" João de Deus em Abadiânia, em Goiás, o caso do espírito Doutor Hans, supostamente relacionado a um serviço de "curas espirituais" em São Caetano do Sul, em São Paulo, e serviços de "psicografias" em Lorena e Guarulhos, também em São Paulo.

As "curas mediúnicas" são narradas dentro do que a aparência se limita a mostrar e que remetem ao mesmo processo do Dr. Adolph Fritz, investindo nos clichês da "medicina espírita" feita no Brasil: supostas cirurgias com uso de tesouras, facas e bisturis, sem higiene, dentro de salas escuras e com pequena duração de tempo.

Sem verificarmos estudos e pesquisas sérias sobre curas espirituais, apenas acredita-se no sobrenatural, no misterioso, fazendo com que a tradição católica existente no Brasil hoje encontrasse seu "terreno de veraneio" na forma com que a Doutrina Espírita é feita no Brasil, em completa e aberrante distância da Ciência Espírita de Allan Kardec.

Já as "cartas psicografadas" são um outro aspecto aberrante que pegou desprevenidos os repórteres da equipe de Caco Barcellos. Isso porque sabemos dessa prática, completamente cheia de irregularidades, em que a veracidade é erroneamente reconhecida, mesmo quando mensagens apresentam apenas a caligrafia dos "médiuns" e expressam o mesmo apelo religioso, como se o mundo espiritual fosse uma grande igreja.

A reportagem cita até mesmo uma pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora, que com métodos duvidosos e confusos, embora pretensamente "rigorosos", apontaram que 98% das supostas cartas psicografadas por Chico Xavier teriam sido "exatas, precisas e verdadeiras", um resultado que não tem qualquer grau de validade séria.

Além dessa constatação ser bastante tendenciosa, sem verificar outros aspectos - como a semelhança de apelo religioso das mensagens, que destoam em muitos casos das personalidades originais dos jovens falecidos - , o único critério que se observa nas pesquisas é preservar a reputação de Chico Xavier, protegido por estereótipos diversos que vão da religiosidade à humildade.

E as "cartas psicografadas" tornam-se um processo leviano, sensacionalista, na qual a emotividade das famílias que perdem seus filhos é explorada da maneira mais constrangedora, já que a pieguice da exploração da tragédia alheia, da capitalização sobre a tristeza do outro, acaba servindo mais para propaganda dos "centros espíritas" do que para qualquer fim de aparente caridade.

É lamentável que um programa que queira ser considerado como de jornalismo sério, em que pese ser veiculado pela conservadora Rede Globo de Televisão - tão marcada negativamente por suas manobras ideológicas - tenha que servir de propaganda para as irregularidades do "espiritismo" brasileiro, que sabemos viver sempre de abordagens especulativas, fantasiosas e fraudulentas.

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