sexta-feira, 24 de julho de 2015

Chico Xavier e sua "ajuda" depois do "leite derramado"


O sensacionalismo, quando relacionado à produção de comoção popular e histeria fanática em torno de uma figura religiosa, é um fenômeno considerado bem-sucedido num país com pouco esclarecimento até entre os que se supõem relativamente esclarecidos.

Pois é esse sensacionalismo que faz Francisco Cândido Xavier estar acima de todas as coisas. Seus seguidores mais apaixonados, ou mesmo os espíritas autênticos esforçados, mas pouco vigilantes, endeusam o anti-médium como um suposto consolador e um pretenso misto de pensador e filantropo.

Se autopromovendo pela ostentação das tragédias humanas e pela sua suposta missão de consolador, Chico Xavier sempre foi conhecido como "o homem que enxugou lágrimas". Grande coisa. Pois o que ele fez foi apenas propaganda de si mesmo às custas da exploração das desgraças alheias, impedindo que pessoas sofressem as perdas de entes queridos na privacidade.

Com a ostentação, Chico Xavier prolongava os efeitos chorosos das tragédias, e sua pretensa consolação expunha o caráter patético de pessoas de boa-fé, pegas desprevenidas na sua tristeza extrema, agora obrigadas a ver suas reações levada a público, para o "bem" (ou melhor, o mal) do pernicioso sensacionalismo "espírita".

As pessoas não podem mais chorar no seu íntimo, na sua privacidade. A perda dos entes queridos se torna um espetáculo circense. As mortes prematuras se tornam um espetáculo de puro exotismo, simbolizando uma morbidez que beira ao sensualismo que Chico Xavier tanto dizia "condenar".

Pois não há volúpia maior do que explorar as mortes de jovens geralmente de aparência atraente e cheios de planos na vida e, com isso, movimentar toda uma indústria de "cartas espirituais" que só vinham das mentes de supostos médiuns, um mau exemplo que já foi puxado por Chico Xavier, da forma mais explícita e escancarada possível.

Aí que está o pior. As famílias não podem sofrer a perda de entes queridos na privacidade. Já é um grande trabalho, por exemplo, comunicar a parentes sobre o falecimento de um filho, "graças" ao "todo-maravilhoso" Chico Xavier essas famílias estão sujeitas a expor até à imprensa policialesca a respeito disso. A tragédia que poderia durar uma semana se prolonga por vários anos.

E aí, quando essas famílias acreditam que recebem mensagens espirituais dos próprios entes queridos, elas não passam de um reles propagandismo religioso que lembra muito o estilo dos respectivos supostos médiuns que as escreveram, mas pouco ou nada lembram, com fidelidade, o que os mortos haviam sido, e mesmo as semelhanças não escondem aberrantes diferenças.

As "mensagens espirituais" viraram uma grande indústria, feita para vender livros e enriquecer os dirigentes "espíritas". Aparentemente, Chico Xavier abria mão dos lucros, mas recebia da FEB todo o conforto e, da grande mídia, a reputação de um verdadeiro astro pop. Tinha fama, virava celebridade, e se vangloriava disso. E fingia uma humildade que seus seguidores juram ser "verdadeira".

Um exemplo dessa indústria é o livro Enxugando Lágrimas, de 1978, aparentemente um trabalho conjunto entre Xavier e Elias Barbosa, outro suposto médium. Nesse livro aparecem supostas cartas de entes queridos falecidos, que mostram o habitual propagandismo religioso, que corresponde ao sutil e habilidoso proselitismo "espírita", geralmente nunca assumido.

Pois é muito fácil "enxugar lágrimas" quando a tragédia aconteceu. Botar a mão no ombro de quem perdeu tudo ou perdeu algo muito importante, é facílimo, porque é extremamente fácil o socorro vir depois que algum grave prejuízo aconteceu.

Daí que não é muito difícil percebermos, ao ver programas de TV do especialista em sobrevivência humana, o militar inglês Edward "Bear" Grylls, e constatar que o britânico está muito à frente de Chico Xavier, porque, enquanto este só "chega" depois da tragédia ocorrida, Bear Grylls previne tragédias.

Os programas de Bear Grylls são um grande preventivo de tragédias. É claro que ninguém vai sair por aí imitando o que ele faz sem ter preparo nem cautela, mas Bear permite que estudemos os meios de sobreviver a um infortúnio, evitar o perigo e nos protegermos contra males e prejuízos diversos.

O "espiritismo", tão "iluminado" e "sábio", nem consegue prevenir as pessoas de não sofrer um acidente automobilístico aqui, um latrocínio ali, ou se casar com cônjuges que não passam de inimigos mortais em potencial. E, sádico, ainda inventa que, se houve algum infortúnio, é porque a vítima estava cometendo um "reajuste espiritual".

Por isso Chico Xavier perdeu muito e não merece ter a reputação que possui, de vez em quando seduzindo até aqueles que se dizem ou pretendam ser espíritas autênticos. Chico, se fosse bombeiro, só viria depois que tudo fosse reduzido a cinzas e os moradores das casas fossem mortos pelo fogo. Isso é consolação? Não. Mais parece desolação, mesmo.

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