domingo, 12 de julho de 2015

O "espiritismo" e a dependência psicológica das orações


O "espiritismo" glamouriza o sofrimento, culpa as vítimas, inocenta os culpados e cria toda uma bagunça social, moral e até cultural através de seu moralismo herdado do Catolicismo medieval. que, embora os "espíritas" não admitam, é uma herança explícita, por mais não assumida que seja.

Afinal, essa mania de culpar vítimas e inocentar algozes é um legado medieval. O Centro "Espírita" Irmã Lúcia - sempre os títulos católicos - de Blumenau, divulgou uma mensagem em que o suposto espírito de Eduardo de Jesus, filho do coreógrafo Carlinhos de Jesus, apelava pela inocência de um dos seis assassinos do jovem músico.

É sempre assim. Há a alegação, de um lado, de "reajustes espirituais" ou "resgates morais" que são usados como pretexto para culpar e acusar as vítimas, e, de outro, a tese dos "justiceiros espíritas" que criminosos e algozes de qualquer espécie, encarnados ou desencarnados, vistos como "jagunços" a serviço da "Lei de Causa e Efeito" acreditada pelos "espíritas" brasileiros.

Essa ideia moralista reflete uma grave contradição do "espiritismo" brasileiro, que tanto diz para nunca julgarmos ou condenarmos outrem, mas que julga e condena da forma mais severa do que aquela com que pede para que não façamos.

Os "médiuns espíritas" não têm a menor ideia de quem foi quem em encarnações anteriores, mas têm a arrogância de presumir que todos os brasileiros tinham vivido no Império Romano e que por isso até as mais inocentes vítimas da violência teriam sido algozes sanguinários naqueles tempos imperiais.

O tão "bondoso e puro" Chico Xavier tem em seu currículo um julgamento de extrema crueldade. O anti-médium mineiro, que dizia para nunca julgarmos nem culparmos quem quer que fosse, julgou as vítimas do trágico incêndio em um circo de Niterói, no final de 1961, de terem sido gauleses sanguinários no tempo do Império Romano. E ainda botou culpa no Humberto de Campos.

Diante desse severo moralismo dos "espíritas", que fazem glamourização do sofrimento, prometendo bênçãos que só virão no além-túmulo (você, desgraçado, só vai ter vida melhor depois que morrer), é natural que um conhecido livro tenha uma passagem de longo sofrimento, etapa primordial desse taylorismo religioso que é o "espiritismo" brasileiro.

Para quem não sabe, taylorismo é a ideologia profissional lançada pelo norte-americano Frederick Taylor, no século passado, e que consistia em trabalhar mais e mais para obter remunerações melhores. Quem conseguisse sair vivo depois de trabalhar como um condenado era premiado com promoções e cargos melhor remunerados ou, ao menos, com algum aumento salarial.

No "espiritismo", a ideia é sofrer, sofrer e sofrer, aguentar os retrocessos da vida, adiar grandes projetos pessoas para não se sabe quando - talvez na próxima encarnação, quando não haverá condições para tal realização - , e, para resolver os problemas, só mesmo o "silêncio da prece".

O livro Nosso Lar, o arremedo de ficção científica de Chico Xavier, mas definido como "suposto relato realista da vida espiritual", o personagem André Luiz passa oito anos no Umbral, zona atribuída a um ambiente cavernoso de pessoas mórbidas e embrutecidas.

O blogue Ceticismo.Net, um texto sobre Nosso Lar atenta para o sofrimento interminável que só com um excedente de orações e preces consegue atrair alguma salvação. O trecho comentado por André Carvalho, responsável pela página, ilustra bem essa queixa:

Agora, a maravilha é quando ele descobre quanto tempo ficou no Umbral: 8 anos. OITO ANOS! Supondo 2 anos bissextos no meio, temos 2922 dias de desespero. Supondo que ele dormia cerca de 8h por dia (quando os espíritos-de-porco deixavam), totaliza-se 46752 horas de dor, angústia e sofrimento ininterruptos, bebendo água da lama, correndo em frangalhos para lugar nenhum (tá no livro), rezando e pedindo por ajuda. A cereja do bolo é que Clarêncio esclarece (mas hein?) que ele conseguiu a dádiva de ser salvo porque implorou pela ajuda divina e que vários entes queridos dele imploravam para que Deus, em sua suprema bondade e justiça, o livrasse daquele mal. Ou seja, se o cara não tivesse ninguém para pedir por ele, seria bem capaz de ele estar correndo pra lá e pra cá pelo Umbral até hoje.

Conclusão para uma mente que para 1 minuto para refletir sobre isso: Sadismo! Pombas, entra na cabeça de alguém que uma Entidade Suprema fique observando alguém em estado de sofrimento extremo por oito anos, resolvendo livrar a cara só depois de estar satisfeito com as rezas e puxações de saco? ISSO é fraternidade? ISSO é bondade? ISSO é atitude que algo tido como a bondade extrema tenha? Não seria mais fácil dizer: Tirem logo o cara de lá, e dêem-lhe um esporro. Mas tira o cara de lá pelo amor de… pelo MEU amor, droga! E tudo isso porque ele bebeu demais, comeu relativamente muito e dava uns pegas em tudo que era rabo-de-saia? Se bem que mais pra frente aparece uma velhinha que ficou uns100 anos lá pelo Umbral, mas sua pose não parece que estava tendo o mesmo sofrimento de André Luiz.

Isso lembra os tratamentos espirituais. Fora pessoas "especiais" - entenda uma "pessoa especial" alguém como Luciano Huck, Ivete Sangalo, DJ Marlboro e Fernando Collor ou mesmo Eduardo Cunha e Jaime Lerner - , que se fizerem tratamento num "centro espírita", terão sorte grande na vida, ou os submissos à "fé espírita", o restante sempre arruma um prejuízo com tais tratamentos.

Quem procura agora um emprego ou quer ter mais sorte na vida amorosa, ao fazer um tratamento espiritual, não só vai continuar sem sorte para obter uma oportunidade nesses dois ramos, como atrairá mais infortúnios e limitações.

Não adianta o paciente ser uma pessoa boa, altruísta e de grandes projetos para transformar a sociedade. E é inútil ele seguir todas as recomendações do tratamento espiritual, não pensar em sexo, moderar na alimentação e, sobretudo, ter boas vibrações energéticas, porque depois de fazer o esperado tratamento, o azar bate à sua porta de uma maneira ou de outra.

Fazer tratamento espiritual, com todo o arremedo de terapia hospitalar com receituário homeopático, é pior do que passar debaixo de uma escada. Tem gente que passa debaixo de uma escada e tem o "corpo fechado", gíria do candomblé para pessoas que estão protegidas contra o azar e o infortúnio. Já quem faz tratamento espiritual quase sempre atrai algum azar.

De repente, surge aquela oportunidade de um concurso público para um excelente emprego numa autarquia. Mas o rapaz, depois que fez um tratamento espiritual, mergulha fundo nos estudos para o concurso, se dedicando exemplarmente na memorização dos assuntos.

Só que no meio do caminho uma greve de bibliotecários o impede de pegar os livros necessários, ele perde tempo procurando material que não lhe é acessível e, por mais que tente fazer tudo de melhor na prova, acaba sendo reprovado de uma maneira ou de outra.

Ah, mas ele "não precisa" se preocupar. Se ele, por exemplo, é formado em Jornalismo, tem um "bom emprego" naquela rádio FM metida a jornalística cujo dono e principal comunicador era um político corrupto que adquiriu essa FM num esquema de lavagem de dinheiro. Para piorar, esse patrão faz aniversário no mesmo dia que o rapagão que fez o tal tratamento espiritual.

Na vida amorosa, então, o rapaz não tem oportunidades para atrair mulheres de sua afinidade espiritual. Vejam como o "espiritismo" é materialista. Depois de um tratamento espiritual, o rapaz só passou a atrair periguetes cujos ex-namorados até hoje não suportam o fim da relação e, ciumentos, são capazes de matar qualquer um que chegasse perto das ex-namoradas, mesmo que seja para dizer a hora certa.

Veja que "oportunidade" que a "doutrina de amor e luz" traz. O rapaz não pode ter a colega mais bonita de sua escola ou faculdade, mas pode ter até uma "mulher-fruta" que foi noiva de um miliciano. E, para piorar, o rapaz não gosta de periguetes nem de "mulheres-frutas", mas as atrai de forma constante e persistente e, junto, atrai também a "sede de sangue" de seus ex-namorados.

Isso sem falar da fúria de sociopatas na Internet que o pobre coitado acaba atraindo, por causa das energias infectadas que os "centros espíritas" sempre possuem. E que não são exceções, mas a própria regra, diante de uma religião como o "espiritismo", que poderia existir com todas suas distorções, se não fosse o seu apego à mentira e à dissimulação.

A onda de infortúnios que, depois de tratamentos espirituais, faz jovens atraírem a fúria de internautas sociopatas, faz os chamados "nerds" atraírem o assédio de periguetes (que os nerds detestam) e a fúria vingativa dos sanguinários ex-namorados delas, e faz mães perderem filhos e pais perderem filhas (ou vice-versa), ainda é relativizada pelos "bondosos espíritas".

Eles ficam inventando que os tratamentos espirituais "dão certo, sim", e arrumam como desculpa que os "espíritos trevosos" é que atrapalham. Há até senhoras que, fingindo algum tom didático e maternal, tentam "explicar": "O tratamento está dando certo, com certeza. Mas sabe aqueles amiguinhos que não entendem e só querem atrapalhar? Pois é".

E o que eles recomendam? Mais orações, mais doutrinária, mais "leitura espírita". Mais livros de Emmanuel, mais palestras de Divaldo Franco, mais "silêncio da prece". Só que mais infortúnios acontecem, os jovens atraem ofertas de emprego mais tenebrosas, pretendentes desagradáveis com ex-namorados mais perigosos, e os sociopatas virtuais já rondam suas casas esperando vingança.

Os pais e mães, então, não bastassem perder  filhos e filhas queridos, têm a "oportunidade" de terem suas casas saqueadas por outros filhos, por conta das drogas. Os pais não são instruídos a cuidar dos filhos, a não ser com sacrifícios quase inúteis e perdem até álbuns de famílias e tudo, porque os filhos que sobreviveram são justamente os mais problemáticos.

E aí, o que os "espíritas" recomendam? Mais preces, mais doutrinária, mais "leitura espírita", mais Emmanuel, mais Divaldo Franco, mais "música espírita", mais preces, mais doutrinária, mais "leitura espírita", mais Emmanuel, mais Divaldo Franco, mais "música espírita" e por aí vai.

Tudo acaba virando uma dependência psicológica, uma overdose de orações e ritos "espíritas", tudo feito para sair ou ao menos se proteger contra um infortúnio. Nem que seja para o jovem ficar trancado em casa nos momentos em que ex-namorados de periguetes e internautas sociopatas rondam a rua onde ele mora à espera da vítima para matá-la.

Pois a dependência psicológica não trará necessariamente benefícios. Se o cara trabalha numa rádio corrupta - mordendo os beiços porque não passou para aquela tão sonhada autarquia - , a overdose de preces e ritos "espíritas" garantirá, ao menos, que ele, ao se envolver numa encrenca (como a associação ao patrão quando este é denunciado por ligação à corrupção de dirigentes esportivos), consiga se livrar de seus efeitos com a ajuda de um bom advogado.

No candomblé, pelo menos, o sujeito, embora passe a contrair uma dívida religiosa com os orixás, pelo menos consegue a resolução pronta de seus problemas e ao mesmo tempo evitar que infortúnios pesados aconteçam em suas vidas.

No "espiritismo", não. A ideia desta religião é a pessoa contrair um problema pesado, incluindo ameaças e infortúnios, sofrer até não poder mais - e, de preferência, acima das condições que ele pode suportar - e apenas resolver parcialmente os problemas com a overdose de preces e ritos "espíritas".

Isso se chama dependência psicológica. Como no uso de drogas em que o consumo cresce na medida em que o prazer da primeira tragada diminui a cada ingestão. Assim como a overdose de drogas acaba matando a pessoa ou transformando-a num verdadeiro monstro ou zumbi em vida, a overdose das orações e ritos "espíritas" cria uma pessoa religiosamente mais histérica e paranoica.

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