sábado, 4 de julho de 2015

O falecimento de Waldo Vieira


Faleceu, no final da tarde do último dia 02, no Hospital Costa Cavalcânti, em Foz do Iguaçu (PR), aos 83 anos, o "médium" e ultimamente líder-fundador da Conscienciologia e Projeciologia, Waldo Vieira. Mineiro de nascimento, ele vivia na cidade paranaense, onde criou sua doutrina, e havia sofrido seis dias antes um acidente vascular cerebral (AVC).

A Conscienciologia e Projeciologia é uma seita com caráter de pseudo-ciência que, disse Waldo, reuniria elementos de Psicologia, Antropologia, Sociologia e outras ciências, mas vista de uma forma esotérica e mística, embora Waldo usasse como princípio a tese da "descrença", que se baseia numa postura cética sobre todas as coisas.

Consta-se que a origem da seita se deu depois que Waldo Vieira rompeu a parceria com o anti-médium mineiro Chico Xavier, após a repercussão dos escândalos de materialização, realizados entre 1963 e 1965, envolvendo a suposta médium Otília Diogo que, entre outros personagens, se fazia passar pela falecida irmã Josefa e usava o truque ilusionista de "atravessar" as grades de uma jaula.

Com a ruptura, Waldo, que era mineiro de nascimento, se mudou para Foz do Iguaçu para fundar a Conscienciologia e Projeciologia (geralmente a primeira expressão é o nome mais conhecido). Há quem aposte que a criação da seita era influenciada pela onda de esoterismo que marcou parte da Contracultura e se popularizou com o modismo hippie.

A Conscienciologia também é comparada com a Cientologia, criada por L. Ron Hubbard (Lafayette Ronald Hubbard) e hoje conduzida pelo discípulo David Miscavige. Mas a doutrina de Waldo difere pelo fato de não apresentar, pelo menos aparentemente, métodos autoritários e rígidos de manipulação das mentes das pessoas, como a seita popularizada por Tom Cruise mostra.

O CASO "ANDRÉ LUIZ"

Ainda não está resolvida a forma de como Waldo Vieira colaborou com o personagem André Luiz, que, sabe-se, não passa de uma criação fictícia lançada pelo livro Nosso Lar, um arremedo de ficção científica lançado por Chico Xavier sob o pretexto de ser um relato do mundo espiritual.

O que se sabe é que Nosso Lar, de 1943, assim como livros derivados, como Missionários da Luz, de 1945 - que acadêmicos "espíritas" alegaram ter antecipado conhecimentos científicos sem dar provas consistentes para sua tese - , tiveram como fonte o livro do reverendo inglês George Vale Owen, A Vida Além do Véu (Life Beyond The Veil), do qual Nosso Lar teria plagiado seu enredo.

Embora oficialmente se diga que André Luiz "existiu" e teria sido um figurão conhecido na Terra, a identidade de quem ele teria sido na encarnação anterior é controversa e com dados sempre confusos. A tese mais aceita, ainda que também duvidosa, partiu do próprio Waldo, que alegou que André teria sido o médico Carlos Chagas (1879-1934).

Mas tudo indica que Waldo Vieira colaborou de alguma forma com o personagem André Luiz, nome do falecido irmão de Chico Xavier. Waldo foi um fã de revistas em quadrinhos e apreciava ficção científica e, tendo sido "médium" desde criança, na época em que Chico Xavier já era um "astro" do "movimento espírita", pode ser que ele tenha colaborado com a elaboração do personagem-médico.

Waldo era pré-adolescente quando Nosso Lar foi publicado. Ele havia sido um prodígio que fazia supostas mediunidades desde os nove anos. Sendo mineiro, evidentemente Waldo, que desejava ser médico, posteriormente sua formação acadêmica, teria sido um fã de Chico Xavier.

É possível que Waldo tivesse feito correspondências com Chico e dado sugestões para o livro Nosso Lar, já que seus familiares teriam também entrado em contato com o anti-médium de Pedro Leopoldo. Há indícios de que, além do plágio do livro de Owen, Nosso Lar teria sido um híbrido entre o pretenso cientificismo de Waldo e o religiosismo de Chico Xavier.

Oficialmente, a parceria de Waldo e Chico teria sido inaugurada pelo livro Evolução em Dois Mundos, de 1958, de conteúdo pretensamente científico e atribuído a André Luiz. Mas fontes indicam que a parceria já se dava desde 1950 e que Nos Domínios da Mediunidade, de 1955, teria sido também fruto dessa parceria, sem que se creditasse o nome de Waldo.

Waldo Vieira também está associado a uma suposta psicografia atribuída ao escritor francês Honoré de Balzac (autor de obras como A Mulher de Trinta Anos), Cristo Espera por Ti, lançado em 1965, da qual Waldo Vieira agiu sozinho como suposto médium.

Waldo Vieira teria denunciado, em 2010, que Chico Xavier recebia "cartas marcadas" para fazer suas supostas psicografias, revelando a coleta de informações para produzir cartas apócrifas atribuídas a pessoas falecidas. Em 2012, no entanto, Waldo tentou desmentir que teria acusado Chico Xavier de cometer fraudes, temeroso em pôr em xeque o famoso mito de Xavier como um "bom velhinho".

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