segunda-feira, 6 de julho de 2015

Rio de Janeiro: provincianismo, sociopatia e seu risco

PROVINCIANISMO DOS CARIOCAS É DE DEIXAR QUALQUER MATUTO DO NORTE DO BRASIL DE QUEIXO CAÍDO.

A preocupante situação do Rio de Janeiro, que sofre um surto de provincianismo que torna o Estado um dos mais atrasados do país, é um fato insólito que faz com que muitas pessoas não acreditem. Porque, até algumas décadas atrás, o Rio de Janeiro, mesmo meio cambaleante, tentava passar um aspecto de modernidade e cosmopolitismo.

O provincianismo que assola o Rio de Janeiro, como descrevemos, não é um simples bairrismo. não é um chauvinismo à carioca, mas uma mentalidade atrasada, desleixada e uma visão de mundo ao mesmo tempo atrasada, desinformada e intransigente, que toma conta de uma influente parcela de cariocas, não realmente todos, mas uma parte significativa.

A agressividade dos reacionários digitais (verdadeiros sociopatas), a mídia retrógrada, a compreensão rasteira das pessoas que moram em suas cidades, algumas de fazer qualquer matuto do Norte do país de queixo caído. Até quando o assunto é cultura, o matutismo dos cariocas e dos fluminenses em geral é de arrancar os cabelos.

Afinal, entre o pseudo-ativismo do "funk", o superficialismo do rock radiofônico e a pieguice pedante do "pagode", não bastasse o Grande Rio ter "descoberto" o "sertanejo" nos últimos dez anos, nota-se uma visão grotesca, rasteira, conservadora e defasada de seus defensores, que diante de alguma discordância de outrem, reagem como se fossem jagunços de um latifúndio do Acre.

Qualquer ídolo decadente do exterior, seja um Double You, por exemplo, quando chega ao Rio de Janeiro é exaltado pelos cariocas médios como "coisa de outro mundo". A programação radiofônica hit-parade, com seus sucessos estrangeiros ultracomerciais, é visto como "coisa de outro mundo".

Até a "cultura rock" se perde endeusando pastiches como Guns N'Roses e Linkin Park, enquanto seus fãs caricaturalmente definem a "atitude rock" com gestos tolos e inócuos como botar linguinha para fora e fazer o "sinal do demônio" com as mãos. Quanto ao "funk", seus defensores preocupam ao ver "modernidade" nas baixarias retrógradas e estereotipadas do ritmo.

O pessoal do Grande Rio também preocupa ao manter uma mentalidade que exalta tudo que "vem de cima". É só uma autoridade, um tecnocrata, um executivo ou uma celebridade impuserem qualquer bobagem que ela é exaltada como se fosse a "salvação da lavoura". Mas se alguém criticar essas arbitrariedades nas mídias sociais, a "galera reaça" dispara difamações e calúnias na rede.

CLIMA DE FAROESTE

Observando os noticiários do município do Rio de Janeiro, nota-se até um clima de faroeste. Assaltos, sequestros e vandalismo em estações do metrô e de ônibus BRT, Incêndios em prédios históricos. Ataques aos postos da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), matando até policiais.

O provincianismo está até mesmo na "nova tecnologia" que os ladrões estão usando para render as vítimas, uma simples faca de cortar carne. E um Estado e uma capital governados por gente que despreza as leis, o bangue-bangue rotineiro e o caos da violência sem freio fazem parte do "espetáculo".

Na economia, o desabastecimento de produtos nos mercados é algo estarrecedor. Afinal, o Rio de Janeiro é um dos grandes centros do país e Estado onde ficam as sedes de muitas fábricas e distribuidoras.

Mas mesmo São Paulo e Minas Gerais também são regiões próximas, e o fato de faltar produtos que levam no mínimo duas semanas para serem repostos nos estoques é algo assustador, pois não dá para admitir que faltem produtos em mercados próximos de seus fornecedores. E isso se dá pela falta de logística de gerentes que agem como se fossem funcionários de mercadinhos do interior.

Além disso, há o fanatismo do futebol, que parece inofensivo, mas preocupa pelo seu grau de intolerância contra quem não curte o esporte. Só mesmo a mentalidade provinciana, de roça mesmo, para impor qualquer "monocultura" para todos, e o futebol é, infelizmente, tido como moeda obrigatória que mede as relações sociais no Estado do Rio de Janeiro.

Outro aspecto provinciano é que os cariocas e fluminenses passaram a se comportar como se fossem os últimos a saber de qualquer coisa. Os políticos cariocas descobriram o "filhote da ditadura" Jaime Lerner com mais de três décadas de atraso e impuseram pintura padronizada nos ônibus quando esta medida se torna decadente (mas ainda vigente) até em cidades como Curitiba e São Paulo.

O pessoal do Rio de Janeiro "descobriu" a disco music nos anos 1990, que chegou a ser modismo nos anos 1970 mas parece que se esqueceram disso. "Descobriram" o "sertanejo" dos anos 1990 só em 2005, como "descobriram" o rock'n'roll em 1995, apesar de todo o trabalho anterior da Rádio Fluminense FM. E acham que Axl Rose é o "pai do rock" e o falecido Chorão, seu "filho escolhido".

Aliás, religiosiza-se e diviniza-se as coisas. Até mesmo decisões relativas a mídia e sistema de ônibus são encaradas com o fanatismo típico dos fundamentalistas religiosos. Só o BRT e o Bilhete Único geraram grupos de "milícias talibãs" dentro da busologia estadual.

E para quem acha que um primor de urbanismo se consolidou quando grandes áreas suburbanas no entorno do Centro, do Castelo à Cidade Nova, foram destruídas na primeira metade do século XX para construírem a Av. Rio Branco e a Av. Pres. Vargas, nota-se o crescimento de áreas ainda mais desorganizadas e perigosas como os Complexos do Alemão e da Maré, próximos ao Aeroporto Tom Jobim (antigo Galeão), no caminho entre este e o Centro.

NEM NA BAHIA DE ACM ERA ASSIM

A situação do Rio de Janeiro é calamitosa. Seu provincianismo atinge níveis altíssimos. Exagero? Não, isso nada tem de exagero. E ele é expresso sobretudo na política, com o neo-coronelismo do grupo político de Eduardo Paes, Sérgio Cabral Filho e Luiz Fernando Pezão, e o neo-medievalismo do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.

Nem a Bahia de Antônio Carlos Magalhães afundou tanto no provincianismo quanto o Rio de Janeiro. Com todo o retrocesso que a Bahia que soava como uma Maria-Fumaça com fôlego de trem-bala sucumbiu após o golpe de 1964 (antes desse fato, Salvador era um pólo ascendente de cultura e desenvolvimento social) e todo o autoritarismo de ACM, a Bahia até teve sua queda livre.

Afinal, os meios de comunicação eram entregues a "coronéis" eletrônicos como Mário Kertèsz e Marcos Medrado, os transportes eram representados por um sindicato de sigla confusa (SETPS) de pronúncia ainda mais confusa ("Sétépis", com dois "e" agudos e um deles inexistente entre o "t" e o "p". Isso sem falar da "monocultura" da axé-music, que só agora começa a ruir, como um Império Romano em lenta decadência.

Mas lá não havia tanto desabastecimento quanto no Rio de Janeiro. A mentalidade do falecido empresário Mamede Paes Mendonça, que começou com um mini-mercado a sua rede de supermercados batizada com seu sobrenome e hoje correspondente à rede Bompreço (controlada pela estadunidense Wal-Mart), tinha maior agilidade de logística e administração de supermercados do que o "cosmopolita" Artur Sendas, do Rio.

Outros aspectos é que Salvador já superou seu vício de sujeira e poluição, e seu ar é considerado melhor respirável entre as capitais do Brasil. Já o Rio de Janeiro, com sua multidão de fumantes inveterados e intransigentes e sua poluição de velhas indústrias e carros mal-conservados, tornou-se mais poluído que São Paulo, antes a capital mais poluída do país.

Outro caso aberrante é a conformidade com que Niterói, antiga capital do Estado do Rio de Janeiro, tem em se tornar atrasada como a cidade vizinha. Antes um projeto de cidade pequena mas cosmopolita, Niterói hoje está reduzida a uma cidade do interior que as cidades do interior não querem mais ser.

Niterói tem todos os defeitos da Cidade Maravilhosa, com o agravante de, não sendo mais capital, se satisfaz em fazer papel de "capacho" da cidade vizinha, como se dela fosse um reles quintal de fundo da "casa carioca", representando servilmente a "Zona Leste" que o Rio de Janeiro não possui devido à Baía da Guanabara. Niterói tem séria precaridade na vida cultural e econômica que desmentem o status niteroiense de alto índice de desenvolvimento humano.

Alguma coisa tem que ser feita, pois o Rio de Janeiro passa no momento por um surto provinciano que pode gerar catástrofes nacionais, na medida em que o Estado e, principalmente, sua capital, são considerados referências para o Brasil. É a partir do Rio de Janeiro que se lançam referenciais que valem para todo o país.

Com um Rio de Janeiro atrasado, governado pelo neo-coronelismo político, pelo autoritarismo tecnocrata, pela precariedade midiática-cultural e pela fúria dos sociopatas na Internet, o Brasil corre o risco de, seguindo os exemplos cariocas, sucumbir ao mais retrógrado obscurantismo em todos os aspectos, mergulhando o Brasil numa nova Idade Média tão nefasta quanto a da Europa e Ásia.

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