domingo, 6 de dezembro de 2015

A crise do interesse público no Rio de Janeiro


O que a sociedade carioca quer? Ela dá razão ao que políticos, executivos, tecnocratas e famosos decidem? Que Rio de Janeiro ela quer? Uma Disneylândia do consumismo, uma cidade de brinquedo? Ou uma cidade mais justa e melhor estruturada?

O Rio de Janeiro, diz-se tanto a cidade quanto o respectivo Estado, há quarenta anos unidos por causa da arbitrária fusão do Estado da Guanabara (como era o município do Rio) e o antigo Estado do Rio de Janeiro (cuja capital era Niterói, hoje perdida num insólito provincianismo), passa por um processo de falência e decadência vertiginosa, que já impressiona negativamente o resto do país.

Tido como "cidade-modelo", apesar de seus problemas, a cidade do Rio de Janeiro ficou marcada pela violência tanto dos criminosos em toda a cidade quanto das elites que querem expulsar os trabalhadores e moradores das favelas da Zona Sul.

Recentemente, num ato digno de cidade das mais provincianas do interior do país, dessas praticamente isoladas do resto da nação, jovens abastados de Ipanema lincharam um vendedor de gelo até a morte, devido a uma suposta briga com algumas pessoas. Parece coisa de cidade perdida no interior do Piauí, mas foi na ensolarada praia do Arpoador, do imponente corredor do Leblon ao Leme, passando pelas mundialmente famosas Ipanema e Copacabana.

As autoridades andam driblando as leis e impondo medidas antipopulares, mas a mania de mentir e desmentir que contagia o PMDB carioca faz com que os políticos sempre arrumem desculpas aqui e ali para dizer que o que fazem está de acordo com a lei e com o o interesse público.

E aí a "boa sociedade" carioca, que adora ficar com a última palavra e ver seus pontos de vista prevalecendo até nas entranhas das favelas cariocas, tenta evocar a pretensa superioridade dos diplomas, do mercado, da visibilidade, do poder político para explicar os retrocessos que vive o Estado do Rio de Janeiro.

De livrarias ameaçadas de serem fechadas a casas populares demolidas para construir, com o dinheiro sujo das empreiteiras, corredores de BRT e praças olímpicas, tudo decai no Rio. Mas mesmo as casas do projeto Minha Casa, Minha Vida, que não conseguem suprir 1% da demanda que inclui desalojados e favelados, é feito mais para "dar serviço" às empreiteiras.

A reação um tanto hipócrita da "boa sociedade" que não quer que o Rio de Janeiro perca seu glamour - ou pelo menos que a perda de glamour seja do conhecimento do restante do Brasil - e deseja que, com todos os graves problemas, a cidade seja "modelo para o país" na marra, empurrando os retrocessos e medidas arbitrárias para serem adotadas nos demais Estados da nação.

A "boa sociedade" quer que procuremos "anos dourados" no caos cotidiano que vemos, nem que se finja acreditar que o glamour carioca exista em vídeocassetadas ou em sucessos grosseiros do "funk carioca". E quer que prevaleçam decisões e pontos de vista contrários ao interesse público, pelo pretexto de que autoridades, executivos e tecnocratas "sempre agem pelo bem da sociedade".

O descaso das autoridades, as promessas mirabolantes, a mania de desmentir, as medidas paliativas - como uma pequena praia na região de Madureira que não supre a demanda que antes ia para a Zona Sul - , rádios que exploram de maneira caricatural a rebeldia de jovens pobres e ricos (Top Rio FM e Rádio Cidade), linhas de ônibus que forçam a baldeação, tudo isso mostra o quanto o interesse público é deixado de lado.

As autoridades, executivos e tecnocratas impõem sua concepção de "cidadania", "entretenimento" e "mobilidade urbana" no qual a população, em sua maioria, paga caro com limitações de toda ordem. Perde mais tempo pegando mais de um ônibus, compram lanches ruins e caríssimos em eventos musicais, demoram para voltar para casa e ainda ganham de "presente" tiroteios que acontecem até no fim da tarde.

E o que as elites dirigentes fazem? Primeiro prometem que farão tudo, que resolverão os problemas etc. Segundo, tentam desmentir alguma irregularidade. Terceiro, usam falsos argumentos e provas forjadas de que agem em prol da lei e do interesse público. Gastam fortunas em propaganda de TV e criam até personagens humorísticos para "explicar de maneira descontraída" as decisões impostas pelos políticos.

Tudo é feito, na verdade, visando interesses privados. Uma Zona Sul "limpa" da população pobre, um Rio de Janeiro de jovens submissos, com gente impelida ao consumismo voraz, com carros se multiplicando a cada redução de ônibus nas ruas, e moradores expulsos de suas casas, além da insegurança que mata quaisquer pessoas diariamente. Isso é defesa do interesse público?

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