segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Não existe a "religião da solidariedade"


Ultimamente, o "movimento espírita" tenta reagir à sua crise de diversas formas. Sem conseguir convencer da sua pretensa dedicação à mediunidade e aos temas espirituais, seus líderes e palestrantes tentam agora falar em "caridade", "fraternidade" e "solidariedade", como se tais qualidades fossem um diferencial.

Isso é ridículo. A bondade e as qualidades a ela associadas não podem ser consideradas diferenciais, porque são obrigações e compromissos naturais de qualquer pessoa. Se uma religião se ocupa demais em falar de "fraternidade" e "solidariedade", é bom desconfiar.

Além disso, a situação do "espiritismo" mostra impasses que a repetição de textos pedindo para "sermos fraternos" revela uma série de inconvenientes, partindo da pressuposição de que poderemos ser "fraternos" do nada.

Além disso, sem demonstrar qualquer competência nem especialidade com a doutrina de Allan Kardec, na prática um desconhecido cujo nome é usado em vão pelos "espíritas", eles tentam dizer que "valem" por serem "bonzinhos". É como se a "bondade" compensasse os erros preocupantes que os "espíritas" brasileiros fazem em relação à doutrina de Kardec.

Isso é um grande desvio de foco, afinal a doutrina se chama Espiritismo, não é mesmo? Querer definir o "espiritismo" apenas pela ideia de "solidariedade", por mais que pareça positiva e confortante, é um grande desvio de foco. Não é o propósito do Espiritismo promover a solidariedade.

A solução seria eliminar o termo Espiritismo, romper com Allan Kardec por achá-lo "excessivamente hermenêutico" e criar então uma religião de inspiração católica mais flexível, sem batinas, sem revestimento de ouro nem o "senta-e-levanta" das missas. E aí o pessoal que fale da solidariedade. Que se crie, então a Igreja da Solidariedade.

Os "espíritas" não conseguem perceber a complexidade das coisas, da realidade, das tensões. Eles mesmos se baseiam, como doutrina, num sistema de valores herdado do Catolicismo português, de inclinação ainda medieval, e de práticas de mediunidade e visão "espírita" duvidosas e irregulares.

Ficamos perguntando se todo esse apelo à "solidariedade" e à "fraternidade", com seus textos ilustrados por montes de coraçõezinhos, não é o medo e a insegurança dos "espíritas" com as mudanças dos tempos. E, principalmente, o medo do "espiritismo" perder popularidade com as denúncias sobre suas irregularidades.

A gente pergunta também se o "espiritismo" vem com essa overdose de textos sobre "fraternidade" e "solidariedade" porque seus ideólogos estão desocupados com a falta de assunto e querem dar uma de "bonzinhos" para salvar a doutrina deles.

Solidariedade, bondade e fraternidade não se pregam. O grande mal do "espiritismo" brasileiro é teorizar demais sobre essas qualidades, como se isso fosse algo excepcional ou diferencial, como se elas não possam ser desenvolvidas espontaneamente, enchendo demais de divagações sobre as mesmas.

A impressão que se tem é que a bondade não é um ato espontâneo. Ela não pode ser naturalmente conseguida pela consciência humana, mas através do fardo ideológico da religião. jogando as tensões e injustiças para debaixo do tapete.

Além do mais, a ideologia religiosa apela para a união forçada das pessoas, sem considerar individualidades, como se a vida fosse uma coisa qualquer nota, que aceita-se os arbítrios, absurdos e infortúnios como se aceita o vento à nossa frente, e os erros são apenas da culpa de suas próprias vítimas.

Bondade não se teoriza. Além disso, tantos textos sobre solidariedade e fraternidade são dotados de profunda pieguice, que acabam trazendo o efeito contrário, irritando e aborrecendo as pessoas com todo esse desfile de palavras açucaradas em doses diabéticas. Num mundo de injustiças, fazer vista grossa a elas e fingir que estamos num paraíso de fraternidade soa bastante forçado e ineficiente.

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