domingo, 3 de abril de 2016

Brasil e o medo da inteligência pelas pessoas


O Brasil parece sentir medo da inteligência. Pelo menos é o que uma boa e influente parcela de pessoas acaba demonstrando. O mercado de trabalho, a cultura e outros âmbitos das atividades humanas mostram o quanto o raciocínio e a análise crítica dos fatos são atitudes hostilizadas.

O mercado de trabalho, com suas entrevistas de emprego, exercícios psicológicos ou mesmo concursos públicos, sempre arrumam um jeito de discriminar e evitar contratar pessoas de inteligência mais refinada e diferenciada.

A cultura, tão "desprovida de preconceitos" quanto ao que é ruim, pitoresco, grotesco e piegas, adota preconceitos cada vez mais cruéis contra quem é talentoso, tem muito o que dizer e mostra habilidades pouco conhecidas do público médio.

Até a literatura, que poderia ser o exílio do Conhecimento, vive seus momentos de água-com-açúcar. Em 2015, considerado um dos piores anos do mercado literário brasileiro, não tanto pela quantidade de livros vendidos, mas pela qualidade de livros publicados, que criou um modismo aberrante e surreal de "livros para colorir", revela a discriminação que sofre a inteligência humana.

A ambição pelo lucro também faz com que empregadores ou empresários artísticos rejeitassem pessoas com "inteligência demais". Quem exerce senso crítico aguçado tende a perder amigos. Quem mostra um livro com alguma temática contestatória não tem chances de publicá-lo. Pessoas que se revelam muito inteligentes não obtém emprego.

É a era da mediocrização. E, o que é pior, as pessoas entendem a "inteligência" como algo fácil de obter como capim. Ou seja, contraditoriamente, desvalorizam quem é muito inteligente, porque acham que é fácil ser inteligente.

Mas não é. Vide o desconhecimento de História do Brasil, que faz com que as pessoas preguem o golpismo sem saber do risco que derrubar o governo Dilma Rousseff pode representar para a democracia. Ou simplesmente o desconhecimento de leis que faz com que o imprudente Sérgio Moro seja considerado "herói nacional".

A própria burrice nas mídias sociais, uma burrice arrogante que já produziu troleiros que não gostavam de serem criticados - é típico o "folclore" em torno desse tipo, que procura afirmar que "não precisa raciocinar porque já nasceu inteligente" - , é ilustrativa destes tempos.

Mas ver que até empregadores têm medo de contratar pessoas diferenciadas e o mercado literário boicota livros que não saem da mesmice água-com-açúcar - quando muito, se aceitam livros técnicos ou obras históricas que retratem temas como a Segunda Guerra Mundial - é assustador.

Os empregadores inventam meios para fugir dos candidatos "inteligentes demais", criando estereótipos de "bons profissionais" que são ótimos na teoria, mas desastrosos na prática, como o "veterano" de menos idade e o profissional-comediante.

Numa época em que se cultuam subcelebridades, se celebra o besteirol vazio, busca-se a literatura anestesiante que inclui, principalmente, a religião e a auto-ajuda, e temos a aberrante breguice musical que ocupa mais e mais espaços, é estarrecedor que nem para questionar tudo isso em larga escala se é permitido.

Deixa-se que a crise que atinge o país sob todos os aspectos se resolva apenas pela decisão privativa de executivos de mídia e do mercado do entretenimento em geral, e as pessoas vão que nem gado aderindo às "tendências do momento", sem saber o que se trata. Também, as pessoas andam muito apavoradas diante da oportunidade de raciocinar criticamente as coisas.

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