sexta-feira, 29 de abril de 2016

Dois feminicidas conjugais e a encarnação


Dois homens haviam matado, na década de 1980, suas respectivas esposas alegando "legítima defesa da honra". Nenhum deles se suicidou, achando que estavam cometendo um "mal necessário", porque alegavam terem sido "traídos", embora no fundo não tivessem gostado de suas mulheres terem pedido o divórcio e se enfureceram numa discussão na qual eles não conseguiram convencê-las de seus pontos de vista.

Consideramos que os dois tinham 40 anos na época em que cometeram os crimes, o ano de 1982. Seis anos depois, após um terceiro julgamento, o segundo do qual aguardavam em liberdade, porque depois de seis meses de prisão, eles haviam ganho a liberdade condicional, tiveram renovada essa sentença, praticamente dispensados de voltar para a cadeia.

Os dois eram profissionais liberais, e tinham uma formação ideológica machista. Um deles está vivo até hoje, com 74 anos de idade, já com a pena prescrita, mas tentando rearrumar a sua vida, já como aposentado.

Embora tenha se tornado um sujeito simpático e gentil, inofensivo e capaz de conversar alegremente com seus vizinhos, seu esforço de recuperação moral é muito difícil. Ele já está acostumado com o olhar agressivo das pessoas, e todo ano alguém o olha com um certo nojo ou ódio.

No começo de sua liberdade condicional, ele ainda conseguia conquistar novas namoradas e passou o resto da década de 1980 sentindo arrogância, achando que a vítima é que era culpada, que ela foi morta porque gritou com ele e por isso ele, que já estava estressado, pegou o revólver e atirou nela com toda a fúria.

Depois, ele viu que a arrogância lhe custou caro, com reações furiosas não só de mulheres, mas também dos homens. Com o passar dos anos, veio a depressão e o status quo não o impediu de estar desmoralizado, tentando, em vão, fazer das suas condições sociais materiais, como o valor simbólico de seu nome e sobrenome, parecerem "limpas" e "intatas".

Ele nunca poderia mais recuperar o prestígio de outrora, e mesmo sua prosperidade econômica é o que resta de seu cotidiano deprimente. Sente uma impotência moral, vendo a ruína pessoal, se contentando, de forma melancólica, em ver seu ilustre nome preservado por um inútil ostracismo que nunca recuperará a popularidade que havia tido antes. Vive sem altivez e sem muita alegria, sem se destacar por uma qualidade realmente admirável.

O outro feminicida, em algum dia de 1990, com 48 anos de idade, estava sentado diante da televisão, já na noite, procurando um filme para ver. De repente, com a zapeada do controle remoto, deu de cara com a propaganda de um documentário jornalístico que iria narrar o crime que o espectador cometeu, com detalhes e novas revelações dos parentes das vítimas.

Diante dessa propaganda, que o feminicida viu por curiosidade, até para saber do que iria falar dele, lhe provocou, todavia, um grave mal estar. Sentido fortes dores no peito, o homem, com o coração acelerando demais para depois parar, caiu do sofá,

Estava morto. Seu corpo só seria encontrado na manhã seguinte, quando a faxineira estranhava a ausência do homem nas descidas matinais, para comprar pão e jornal, e a casa dele começava a exalar um estranho fedor que lembrava um animal morto.

O feminicida falecido, no seu mundo espiritual, tomou consciência do erro grave que cometeu. Mas, livrando-se cedo do seu "manto material" e das ilusões materiais de seu nome e sobrenome e de seu status quo profissional, resolveu, pela sua consciência, reencarnar imediatamente e recomeçar uma vida do zero.

Reencarnou em 1992, e teve uma rotina bem diferente da encarnação anterior. Teve muitas dificuldades amorosas e também teve dificuldades para obter um status quo privilegiado. Em vez da profissão liberal, passou a ter ocupações mais modestas, e o salário, embora fosse impossível para grandes gastos, dava para sua sobrevivência.

Solitário, ele até se tornou infeliz no amor e, em certos momentos, chorava e ficava deprimido. Mas com o tempo sua força de vontade o fez buscar novos interesses e um novo ânimo lhe veio, com novos passatempos, novas habilidades e talentos que ele começou a desenvolver com gosto.

Através disso, virou um rapaz renovado que, com 24 anos em 2016, vive bem, dentro de suas necessidades. Mesmo solitário, consegue se divertir com seus amigos e, se não tem alto prestígio social, é sempre querido e admirado pelas pessoas em sua volta.

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