sábado, 2 de abril de 2016

Se a "bondade espírita" tivesse funcionado, o Brasil não estaria em crise


Uma coisa é ter pretensão de realizar grandezas. Outra é assumir a responsabilidade para tal compromisso. Uma coisa é dizer, outra fazer, e, com a envergadura que o "movimento espírita" diz possuir, seria de esperar que a "bondade" tão alardeada trouxesse algum resultado.

Mas não traz. A tão festejada "bondade espírita" se limita a ações paliativas que nem de longe interferem nas injustiças e desigualdades existentes. Doações, pequenos e brandos projetos assistenciais, coisas pequenas, de qualidade medíocre, que não trazem transformações profundas nem resultados definitivos. Ajudam, mas muito, muito pouco do que se pode esperar pelo discurso.

No caso da reportagem sobre a Mansão do Caminho, no Fantástico, em 2015, Divaldo Franco comemorou demais por quase nada. Em toda sua história, a instituição não chegou a ajudar 0,1% da população de Salvador, e olha que Divaldo é considerado "o maior filantropo do país".

Se, em índices municipais, a porcentagem de beneficiados pela Mansão do Caminho é considerada humilhante e sem mérito para qualquer festejo, em índices nacionais o índice é mais alarmante, porque se comemora demais com caridade que praticamente beneficia ZERO POR CENTO dos brasileiros.

Isso chamamos de presunção, vaidade, ostentação. Comemora-se demais por pouco. Faz-se alarde por coisa nenhuma, muito barulho por nada. Se Divaldo Franco já personifica o pseudo-sábio moderno, que vivendo nos tempos de Jesus teria a sua reprovação firme e imediata, ver que se comemora demais por tão pouco benefício é algo muito, muito grave.

É só ver em volta do bairro de Pau da Lima, bairro de Salvador considerado um dos mais violentos da cidade. Com a importância de Divaldo Franco e seu prestígio de "maior filantropo do país", ele poderia ter cobrado das autoridades alguma providência. Se fosse por sua influência, o bairro, em tese, seria um dos mais seguros e permitiria que turistas andassem em lugares ermos sem medo, em plena madrugada.

Mas não. É só ouvir a Rádio Sociedade da Bahia, todos os dias, e ver os noticiários policiais de A Tarde. Não há semana em que Pau da Lima não esteja incluído em algum incidente violento. Pelo contrário, todos os dias ocorre alguma coisa: assaltos, homicídios, acidentes graves, brigas.

E isso é o que se noticia através do que a polícia consegue registrar e permite publicar (já que muitas ocorrências ficam em sigilo para não prejudicar investigações). Imagine então o que ocorre em Pau da Lima e não aparece nos jornais nem nas rádios e TVs.

Uberaba é a mesma coisa. Exílio de Francisco Cândido Xavier, a cidade é uma das mais violentas de Minas Gerais. E ainda recebeu da ONU, de "presente" para os 100 anos de nascimento de Chico Xavier, uma queda de mais de 100 colocações em qualidade de vida, segundo o Índice de Desenvolvimento Humano, caindo de 104º lugar (2000) para 210º em 2010.

Que proteção energética é essa? Uberaba não era o lugar com melhor vibração energética do país? Então por que os noticiários anunciam, em tom de aflição, da violência em crescimento vertiginoso na cidade? Por que existem passeatas contra a onda de assassinatos? O que os "espíritas" explicam a respeito da violência em Uberaba? Que ela só mata quem havia feito parte das elites políticas do Império Romano em outra encarnação?

A grave crise que vive o país, crise de valores, de paradigmas, que ameaça a sociedade, não teria ocorrido se a "bondade espírita" fosse realmente transformadora. Uma coisa é ver uma dezena de crianças tomando sopinha e aprendendo o beabá misturado com mistificação religiosa. Outra coisa é ver as desigualdades sociais lá fora e resolvê-las de maneira combativa e ampla.

O deslumbramento religioso é entorpecido pela retórica das "boas palavras" e dos "bons atos". As pessoas não conseguem enxergar as coisas que ocorrem fora de seus parques de diversão religiosos. E ainda tentam argumentar sempre em favor de suas convicções pessoais, como se estivessem com a razão, com a verdade nas palmas de suas mãos.

Imagine se eles pudessem ir a um subúrbio de Uberaba ou nos arredores de Pau da Lima, à uma hora da manhã, em local sem iluminação. Eles já pensaram nisso? Estariam eles, "protegidos" pelo "adorável" Chico Xavier, imunes a serem vítimas de latrocínio?

Que desculpa eles poderiam dar, pensando nesse risco? Que, se morrerem, é porque foram perversos senadores romanos noutra encarnação? Ou que a violência ocorre porque o povo de Uberaba se esqueceu de Chico Xavier?

Ora, ora. Mesmo os subúrbios não se esquecem de Chico Xavier, até porque ele é quase um popstar nesses ambientes. Um grande ídolo, com monumentos em sua homenagem e tudo, com a mídia local toda noticiando as efemérides a ele relacionadas. Seja 02 de abril, aniversário do anti-médium, seja o Dia dos Mortos, seja a Páscoa ou o Natal.

Sobre a "bondade espírita", é um contrassenso que o "espiritismo" brasileiro insista em usar a bondade como diferencial. Isso não existe. Bondade é uma qualidade geral que independe de instituições, ideologias etc. Se uma religião ou outro movimento usa a "bondade" como uma qualidade diferenciada, é bom estranhar. Incompetentes se escondem sob o manto do bom-mocismo.

O fracasso desse discurso de "bondade" é tanto que Divaldo Franco, que otimista anunciava antes de 2012 que o Brasil entraria em regeneração, tão metido a ativista de previsões seguras se limitou, nos últimos anos, a pedir para o Brasil apenas rezar para combater a crise. Silas Malafaia não fez coisa diferente, só para lembrar aos desavisados.

E o resultado da "bondade espírita" não aconteceu. Portanto, não valeu o "tamanho diferencial". Se o resultado tivesse sido realmente transformador, não haveria crise, não haveria conflitos, e o país mergulharia numa prosperidade e numa resolução fácil dos problemas e conflitos.

Se existe o caos no Brasil, não é porque os "amiguinhos não-esclarecidos" - como os "espíritas chamam carinhosamente os "obsessores"  e "trevosos" - agem para tanto, mas porque os privilegiados e os acomodados não querem sair de suas zonas de conforto.

Quem tem demais e o que não precisa não quer largar o que tem, Quem não tem sequer o necessário é deixado à própria sorte. Falar é muito fácil, e o discurso de "bondade" pode causar fascínio e alegria extrema em muitas pessoas, mas não passa de uma grande ilusão.

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