terça-feira, 18 de julho de 2017

Analistas da mídia deveriam investigar as associações da Globo com "espiritismo" e "funk"


A Rede Globo é, eventualmente, alvo de muitos questionamentos e investigações. No último fim de semana, o Domingo Espetacular, da concorrente da emissora carioca, a Rede Record (hoje com o nome de fantasia de Record TV), publicou uma reportagem que, entre outras coisas, divulga que a Globo criou uma empresa-fantasma para uma conta bancária nas Ilhas Virgens Britânicas, mesmo reduto de depósitos bancários de políticos do PSDB.

O poderio da Rede Globo é tão descomunal que existe até uma frase irônica dizendo que "o Brasil é uma concessão da Rede Globo". Especialistas apontam que a influência da Globo é tão grande no inconsciente coletivo da população brasileira que ela atinge até mesmo uma parte daqueles que dizem repudiar a emissora.

Afinal, de que adianta cantar "o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo", se as formas de ver, pensar, falar, vestir, ouvir música, analisar o mundo etc são assimiladas justamente pelos programas da emissora? De que adianta falar mal da Globo se fala as gírias trazidas pela emissora, como "balada", difundida pelo programa Caldeirão do Huck?

Dois fenômenos que poucos imaginam terem um forte vínculo com a Rede Globo deveriam também ser investigados e analisados, o "espiritismo" brasileiro e o "funk". É certo que os dois tiveram uma ação "independente" do poder midiático, mas foi a partir da aliança com a Globo que os dois se fortaleceram e, contraditoriamente, tentam se "sobressair" e se "desapegar" de qualquer associação com o poder midiático que os fez crescer e se ampliar.

De que forma "espiritismo" e "funk" representaram uma excelente parceria com a Globo? Em ambos os casos, é um caminho de mão dupla, indicando uma cumplicidade que não deve ser subestimada. Não se trata de um meio "inocente" de divulgação do "amor espírita" e da "alegria do funk", mas de um processo de manipulação da população no qual a própria Globo realimentaria seu poder de influência e dominação.

Em ambos os fenômenos, "espiritismo" e "funk", nota-se um elemento muito comum: a apropriação do povo pobre, feita de maneira paternalista, espetacularizada e domesticadora. Há aspectos aparentemente opostos, como a "moralidade espírita" e a "sensualidade do funk" que, no entanto, se inserem num mesmo contexto conservador de dominação social pelo poder midiático através da exploração caricatural das classes mais pobres.

A Globo construiu uma narrativa atribuindo messianismo tanto no "espiritismo" quanto no "funk". Remoldou um ídolo religioso confusamente concebido, Francisco Cândido Xavier, com base no roteiro do inglês Malcolm Muggeridge, transformando-o no "filantropo Chico Xavier" que tão tolamente fascina muitos de seus seguidores e simpatizantes.

Já no "funk" a Globo também criou uma narrativa de "cultura das periferias" e seu arsenal financeiro é capaz de pagar seus intérpretes e propagandistas a se infiltrarem nos movimentos sociais de esquerda, de forma a desviar o foco e evitar os debates progressistas autênticos com a desnecessária "polêmica" do "funk" e suas baixarias.

As virtudes humanas acabam sendo transformadas em estereótipos. O "ativismo" do "funk" segue, rigorosamente, o mesmo discurso paternalista do projeto Criança Esperança e uma visão de "periferia" que parece ter surgido em alguma reportagem do Jornal Nacional. Mas o "espiritismo" também se apoia numa "filantropia de fachada" como a do mesmo Criança Esperança.

Chico Xavier, por sua vez, encarnou um protótipo de "homem caridoso" que parece ter sido concebido por algum roteiro de novela melodramática de época transmitido às 18 noras, a tal "novela das seis".

A Globo não esconde que trabalha estes dois fenômenos em suas atrações de entretenimento. Luciano Huck foi escolhido pela Furacão 2000 o "embaixador do funk". "Espíritas" exaltam a "importância da Globo" na divulgação da "doutrina espírita". Novelas inserem tanto temáticas "espíritas" como eventos de "funk" em seus enredos.

Mas isso não é coincidência. A Globo não está apropriando de dois fenômenos "independentes". Há fortes indícios de que ela e os dois fenômenos atuam juntos (quer dizer, cada um destes dois com a Globo) num processo de manipulação da opinião pública e do inconsciente coletivo, estabelecendo visões distorcidas relacionadas à caridade humana e à expressão cultural popular.

LIMITAR O PROGRESSO SOCIAL DAS CLASSES POPULARES

O processo das respectivas parcerias da Globo com "funk" e "espiritismo" visam tocar o "corpo" e a "alma" das classes populares, de forma a produzir um progresso social bastante limitado, que garanta a preservação dos privilégios das elites e, obviamente, do poderio da própria corporação midiática.

A figura do "médium espírita", transformada numa grande aberração, que perdeu o caráter intermediário para se tornar uma figura espetacularizada e dotada de culto à personalidade - apesar do verniz de "humildade" tão associado ao "médium" - , virou um dublê de pensador, de ativista e de filantropo para que verdadeiros pensadores, ativistas e filantropos não sejam apreciados pelos brasileiros.

Afinal, os verdadeiros pensadores difundem ideias que vão contra os interesses das classes dominantes, que promovem tantas desigualdades sociais. Os verdadeiros ativistas representam uma ameaça ao poder e os privilégios dominantes. Os verdadeiros filantropos simbolizam o mito de Robin Hood, de "tirar dos ricos" para dar aos pobres, além de, em vez de "dar peixe", ensinarem as classes populares a "pescar".

No "funk", também há uma preocupação com o controle social. A ideia é difundir, mesmo nos mais empenhados círculos de esquerda dos movimentos sociais, que "é melhor um povo pobre reclamando do que se mobilizando por melhorias", criando um processo lúdico no qual se superestima apenas meras questões comportamentais, enquanto se insere no povo pobre a "consciência" do "orgulho de ser pobre", impedindo as classes populares de reivindicar melhorias profundas.

A Globo trabalha, com "espiritismo" e "funk", um discurso tão sutil que quase ninguém percebe o "vírus global" nesses dois fenômenos, que conseguem se penetrar até em meios sociais aparentemente hostis ao poder da corporação da família Marinho. Mas a presença da Globo no "espiritismo" e no "funk" é certeira e decisiva no mecanismo de dominação e manipulação do povo em geral.

Os "médiuns espíritas" acabam tendo muitas utilidades. Sacerdotes sem batina, nomes como Chico Xavier, Divaldo Franco, João de Deus, José Medrado e outros são utilizados para concorrer com os pastores eletrônicos de forma bem sutil. Sem a vestimenta católica e com um discurso "ecumênico", eles podem atrair para si pessoas de diversas religiões, fazendo com que o "espiritismo", promovido à "religião da Globo", tenha mais fiéis do que a Igreja Universal do Reino de Deus e similares.

Os "médiuns" também podem desviar a atenção da população para intelectuais autênticos que apontam problemas no poderio das elites, como tantos analistas políticos e midiáticos que o mercado não quer ver bastante populares.

Além disso, combinando mistificação religiosa, moralismo ultraconservador e uma retórica "digestível" à maneira dos "gurus" de auto-ajuda, os "médiuns espíritas" podem dominar multidões com seus "balés de belas palavras" e vender, sob o falso rótulo de "esclarecimento", dogmas religiosos medievais e preceitos moralistas que impedem a população de agir em prol de um progresso social mais aprofundado.

Desta forma, "espiritismo" e "funk" tentam restringir esse progresso a níveis toleráveis pelo poder das elites. Um povo pobre que se limita a rebolar, em vez de pedir, por exemplo, a reforma agrária. Ou um povo pobre que se limita a tomar sopinha, concedida pelos "médiuns filantropos", ou aceitar uma pedagogia nos moldes da Escola Sem Partido que a Mansão do Caminho e instituições "espíritas" similares já oferecem à população, uma educação sem estímulo à compreensão crítica da realidade.

Um povo pobre rebolando e tomando sopinha, em vez de lutar por reforma agrária e criar pequenas propriedades agrícolas que ameacem o poder dos grandes latifúndios é o objetivo da máquina da Globo, quando endeusa o "espiritismo" e seus "médiuns" associados à "filantropia de novela global" e quando exalta o "funk" como aquilo que as elites (mesmo as acadêmicas, que se dizem "de esquerda") esperam que seja a "verdadeira cultura popular".

"Espiritismo" e "funk" também são blindados pelo suposto vínculo com as classes pobres, que trata o povo pobre como troféu para cada um dos dois fenômenos, de forma a evitar críticas e questionamentos, mesmo os mais objetivos e consistentes.

Mesmo assim, é possível combater a complacência e não se iludir com instituições ou pessoas que se promovem às custas da associação com pessoas pobres sorridentes. Isso significa um paternalismo muito estranho e revela táticas muito sutis e traiçoeiras de dominação social e manipulação da opinião pública, através do apelo retórico do Ad Passiones ("apelo à emoção").

Por baixo dos panos, valores conservadores, estratégicos para o poder da Rede Globo e das elites associadas direta ou indiretamente a ela, são difundidos, como o machismo no "funk" e a apologia ao sofrimento humano, princípio da Teologia do Sofrimento, nos textos e palestras "espíritas" difundidos no Brasil.

Portanto, é preciso ter firmeza e objetividade, e é necessário investigar, sem medo, a ligação do "espiritismo" e do "funk" com a máquina do poder da Rede Globo. Evitar tal investigação, sob o pretexto de não mexer na zona do conforto da "bondade espírita" e da "alegria das periferias com o funk", seria deixar que o poder da Globo deixe um legado na população, mantendo assim a influência da família Marinho que poderá se renovar sob o primeiro sinal de decadência de seu "império".

Assim, deve-se investigar se há dinheiro da Globo financiando turnês de "médiuns" pelo Brasil e pelo mundo, ou quem é que patrocina os "bailes funk". E como entidades do "funk" e a Federação "Espírita" Brasileira atuam nesse processo de manipulação do inconsciente coletivo, a ponto de fazer as pessoas, mesmo as ditas "progressistas", adotarem uma visão bastante conservadora do que é "melhoria de vida" das classes populares.

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