sexta-feira, 18 de agosto de 2017

"Espíritas" põem culpa em "fantasmas" pelo roustanguismo


O "espiritismo" tem dessas coisas. A religião dos "certinhos" que, quando se envolve em escândalos, põe a responsabilidade nas "almas atormentadas" que "sussurram más sugestões" e supostamente lançam os "espíritas" uns contra os outros.

Como uma Torre de Babel travestida de doutrina espiritualista, o "espiritismo" brasileiro tenta ludibriar a opinião pública, pregando uma coerência que não tem e atribui seus erros aos "amiguinhos pouco esclarecidos que só vem perturbar o trabalho do bem". Toda essa retórica de desculpas é feita para dar a impressão de que o "espiritismo" é a "doutrina da pureza" e seus integrantes, se não são "anjos", estão "próximos disso".

Se o "espiritismo" brasileiro tem uma grande virtude, ela não é a ética, nem a coerência, nem a lógica e muito menos a caridade (que, tão alardeada, esconde que não vai além de mero Assistencialismo). Sua maior virtude é arrumar desculpa para tudo, ter sempre uma alegação pronta para qualquer tipo de deslize, para qualquer procedimento feito ao arrepio dos postulados de Allan Kardec.

Exemplos não faltam. Se o "espiritismo" brasileiro está muito catolicizado, as desculpas utilizadas são que muitos "espíritas" teriam sido padres em encarnações passadas, que o Brasil adaptou a doutrina kardeciana às "tradições religiosas locais" e que tal procedimento se deve pela "afinidade com as ideias do Cristianismo".

Se o "espiritismo" brasileiro é blindado pela Rede Globo de Televisão, a desculpa é que os "espíritas" acham isso ótimo, porque a Globo, pela sua grande audiência, "ajuda muito" na divulgação da "doutrina espírita".

Há também a desculpa, cada vez mais utilizada, que as críticas e ocorrências infelizes que atingem o "espiritismo" brasileiro são fruto de "intolerância religiosa", quando se sabe que as duras críticas aos deslizes do "espiritismo" são, na verdade, intolerância contra a mentira, a desonestidade doutrinária, porque os "espíritas", comprovadamente, cometeram muitas traições aos ensinamentos kardecianos.

Com a blindagem que o "espiritismo" tem, em que até seus piores erros são permitidos, e comprova-se a irregularidade nas "obras mediúnicas", cujos quadros, livros e cartas se chocam com os aspectos pessoais dos autores mortos alegados, nem se pode falar em "intolerância religiosa", quando até um juízo de valor perverso trazido por um "médium espírita" é aceito, mesmo sob o risco de causar danos morais a quem é julgado.

Outro exemplo de desculpas é atribuir aos "espíritos obsessores" os incidentes negativos causados pelos próprios "espíritas". O histórico de confusões do suposto médium Francisco Cândido Xavier, que começou com um livro claramente de obras fake, Parnaso de Além-Túmulo, se valendo pelo uso de nomes ilustres de literatos mortos, é um claro exemplo disso.

É bom deixar claro para todos que o que Chico Xavier fez, e que, lamentavelmente, tem até hoje a aceitação do público e a total e aberta blindagem da mídia e da Justiça - Chico Xavier é (mesmo postumamente) uma espécie de Aécio Neves da religião, tido como "intocável" - , é na verdade um grave problema que já havia sido alertado previamente por Allan Kardec, pelo nem sempre agradável O Livro dos Médiuns.

Nele Kardec alertava sobre o uso de nomes ilustres que espíritos mistificadores - ele destacava os desencarnados, mas vale perfeitamente também para os encarnados e os próprios "médiuns" - se utilizam para veicular ideias retrógradas, sombrias ou delirantes, manipulando as pessoas com a atribuição forjada de nomes prestigiados.

A atribuição a nomes como Humberto de Campos, Augusto dos Anjos, Casimiro de Abreu, Castro Alves e até mesmo a pouco conhecida Auta de Souza, em obras que claramente fugiam de seus respectivos estilos originais (basta uma leitura dedicada para constatar essa dura verdade), era um artifício para o medieval "médium" de Pedro Leopoldo impor a Teologia do Sofrimento, de quem era devoto, através do "apoio" forçado de literatos mortos e renomados.

Todavia, como no Brasil há o chamado "jeitinho", e que aqui prevalece a ilusão de que a religião está acima de tudo e de todos, cabendo a ela a propriedade absoluta da verdade - uma mentira apoiada pela religião é tida como "mais verdadeira" do que a verdade respaldada pela lógica e pelo bom senso - , o que prevalece é a atribuição de autenticidade apenas pela rasa desculpa de que as obras "transmitem coisas boas", como as tais "mensagens de amor".

Assim, oficialmente as confusões que envolveram Chico Xavier são atribuídas à "fúria caluniosa" de intelectuais "invejosos" de ver um caipira "se comunicando" com literatos mortos, e aí se culpam os pobres acadêmicos e literatos da Terra, que cobram coerência e sabem das irregularidades das obras "psicografadas" (um Humberto de Campos, por exemplo, que se reduziu a um "padre"). Os intelectuais seriam, segundo essa visão delirante, tomados por "espíritos obsessores".

No caso de Divaldo Franco ser acusado de plagiar o já plagiador Chico Xavier, também se atribuiu a "força de espíritos obsessores" que "tentaram desunir" os dois supostos médiuns (hoje blindados pelo poder midiático da Rede Globo, como concorrência subliminar aos "pastores eletrônicos" das emissoras concorrentes).

Livrar os "espíritas" das responsabilidades de seus atos negativos é muito ruim. É fácil esconder os abusos pelo pretexto do "amor", da "caridade", das "mensagens edificantes". Todos falam que o processo judicial contra Chico Xavier - que terminou em impunidade, pela "seletividade" conhecida de nossos juízes que viram na "fé" uma marquise para as irregularidades do "médium" - era obra de "obsessores" mas ninguém imagina isso em Parnaso de Além-Túmulo.

Se as pessoas prestarem atenção nos alertas nem sempre agradáveis dos livros kardecianos, verão o quanto estas obras, de contundente coerência, questionaram, por antecipação, o que os "médiuns" brasileiros praticaram com gosto. Ver que espíritos inferiores podem se usar de "palavras de amor" para enganar as pessoas é algo que é óbvio para quem vive no mundo mais desenvolvido.

No Brasil tomado do mais profundo atraso - principalmente através do governo de Michel Temer, apoiado pelo "movimento espírita" - , as pessoas é que acham que as "palavras de amor" estão acima de tudo, e que o balé das palavras pode transformar, por si só, mentiras aberrantes em "verdades indiscutíveis", e questionar isso seria "ceder às vozes dos obsessores". Pensar assim já não é mais ignorância, é tolice mesmo!

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