quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Humberto de Campos Filho sofreu assédio moral por Chico Xavier?

GRAVURA DO ESCRITOR HUMBERTO DE CAMPOS PUBLICADA NO JORNAL A MANHÃ, EM 1943.

Que Humberto de Campos Filho, o jornalista e produtor de TV que herdou o nome do falecido autor maranhense, foi seduzido pelo "médium" Francisco Cândido Xavier, isso é uma verdade que só os beatos religiosos e os complacentes com o "espiritismo" brasileiro em geral não querem admitir.

Assim que morreu Dona Catarina Vergolino de Campos, viúva de Humberto, Chico Xavier, ao saber do interesse do filho pelo "espiritismo" brasileiro, até pelo lobby que a religião tinha na TV Tupi, já existente no Rio de Janeiro e em São Paulo na década de 1950, resolveu "convidar" o produtor para uma doutrinária no Grupo Espírita da Prece, em Uberaba.

Era uma "emboscada" motivada pelo pretexto da "caridade". Mas uma armadilha movida pelo maior deturpador do Espiritismo, um "médium" que reduziu o legado kardeciano a nada, rebaixando a novidade espírita a uma retomada do velho Catolicismo jesuíta medieval sob novo rótulo, que foi feita para tentar abafar processos judiciais recorrentes dos herdeiros do autor maranhense.

Chico Xavier foi um manipulador de corações e mentes dos mais habilidosos e traiçoeiros. A ele estão associadas técnicas como hipnose, Argumentum Ad Passiones (ou "apelo à emoção"), Assistencialismo (caridade fajuta que não traz resultados profundos, mas a promoção pessoal do "benfeitor") e até coitadismo ou vitimismo, já que Chico, quando duramente questionado, costumava, em sua esperteza, reagir em silêncio, posando-se de "vítima", para forçar a comoção pública.

Deturpador e oportunista, o "médium" que usurpou os grandes nomes de nossa literatura para produzir sensacionalismo, confusão e se autopromover com a bagunça que provocou, era também famoso pelo olhar maligno dos tempos de juventude, comprovada por uma foto com ele olhando de frente, publicada por O Globo em 1935. Ele foi também o que mais fez crescer e se consolidar a "vaticanização" que atingiu o Espiritismo no Brasil.

Processado pelos herdeiros de Humberto de Campos em 1944, Chico Xavier viveu seus dias de Aécio Neves e Michel Temer quando foi beneficiado pela seletividade da Justiça, que não conseguiu compreender que as "psicografias" atribuídas ao escritor maranhense destoavam claramente em estilo do acervo que o também acadêmico havia deixado em vida.

Só uma leitura mais atenta é suficiente para evidenciar as diferenças. O estilo original de Humberto de Campos era bem escrito, culto mas coloquial, com narrativa descontraída e ágil. A do "espírito Humberto" é melancólica, prolixa e rebuscada, pesada de se ler, excessivamente igrejeira e moralista, deixando muito claro um estilo que o escritor maranhense nunca seria capaz de expressar.

Embora haja eventuais plágios da obra de Humberto ou pastiches parciais de suas prosas, o que se observa na suposta psicografia trazida por Chico Xavier é que o estilo está mais para um arremedo ruim dos textos dos quatro evangelistas do Novo Testamento (Marcos, Lucas, Mateus e João) nas traduções em português que conhecemos. No conjunto da obra, quase nada de Humberto de Campos se encontra nas obras supostamente espirituais que levam seu nome.

De uma forma muitíssimo estranha, estão fora de catálogo os livros originais de Humberto de Campos. Indagamos até que ponto o lobby do "movimento espírita" no Brasil pode influir no mercado literário. Sabe-se que o "espiritismo" brasileiro é blindado pela Rede Globo, ele virou a "religião da Globo" e Chico, o "padroeiro da Globo". O poder midiático pode ter dado uma ajudinha para fazer os livros originais desaparecerem para dificultar leituras comparativas.

"ME ACEITE QUE EU SOU BONZINHO"

E tudo isso se deu porque Humberto de Campos Filho, que poderia ter mantido seu ceticismo, preferiu se render ao bom-mocismo do "médium", em um espetáculo anual, aparentemente de "caridade", que nunca trouxe resultados profundos e definitivos de transformação social, na cidade de Uberaba, no Triângulo Mineiro.

A reunião doutrinária no Grupo Espírita da Prece e a caravana ostensiva só para fazer meros donativos - uma clara demonstração de Assistencialismo e não de Assistência Social, como alardeiam os "espíritas" - , que em 1957 teve a participação de Humberto de Campos Filho como espectador e convidado, pode ter sido um grave exemplo de assédio moral, através da modalidade de apelo religioso.

No fim da doutrinária, Chico foi abraçar Humberto e, usando um tom melífluo de fala, o envolveu emocionalmente, fazendo-o chorar. Depois fez um falsete que deixou a vítima desnorteada, pensando ser a voz do pai, seduzido pela técnica de manipulação mental através do modo mais perigoso de Argumentum Ad Passiones, o "bombardeio de amor".

Considerado uma novidade em termos de estudos sobre a falácia discursiva, o "bombardeio de amor" é confundido por muitos brasileiros como uma forma saudável de acolhimento das pessoas, pelo aparente tom íntimo e generoso que tal apelo emocional traz, causando sensações de conforto, agrado profundo e alegria.

Mas especialistas em análise de discurso e de manipulação da mente afirmam que o "bombardeio de amor" (em inglês, love bombing), é um dos mais perigosos tipos de Ad Passiones, tipo de argumentação já considerado falacioso.

O "bombardeio de amor" é uma espécie de mancenilheira emotiva, uma referência à árvore mancenilheira, considerada muito bonita e de frutos deliciosos, mas altamente venenosa em toda sua estrutura, sejam as folhas, o tronco, a seiva e as frutas, trazendo efeitos mortais no organismo.

A atuação de Chico Xavier - que completou a técnica de convencimento sobre Humberto Filho com uma amostra de atividades de Assistencialismo - apresenta caraterísticas de assédio moral, como se estivesse dizendo para aquele que iria processá-lo: "Me aceite que eu sou bonzinho".

Isso é extremamente grave, e faz manchar o "espiritismo" brasileiro como um todo, porque usar o "amor" e a "caridade" como pretextos para se aceitar ações desonestas ou oportunistas é muito mais grave do que tais desonestidades e oportunismos em si, porque são meios de forçar a aceitação pública e estimular a credulidade, o deslumbramento cego e o fanatismo.

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