segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Vandalismo em Uberaba e o oportunismo dos "espíritas"

MISTURANDO ALHOS COM BUGALHOS - EURÍPEDES HIGINO, PELO MENOS, PODERIA RETIRAR A MAQUETE DE ALLAN KARDEC, DETURPADO PELO IGREJISMO DE CHICO XAVIER.

O ato de vandalismo em torno do busto do "médium" Francisco Cândido Xavier, que faz frente ao seu mausoléu em Uberaba, foi apenas um ato de vandalismo comum. O "espiritismo" brasileiro é uma das religiões mais blindadas do país, protegida pela maior rede de televisão do país - a Rede Globo - e suas irregularidades nem de longe chegam a ser sequer investigadas na grande imprensa.

Diante do episódio, o filho adotivo de Chico Xavier, Eurípedes Higino, quis embarcar no "modismo" dos ataques por intolerância religiosa, que vitimam apenas crenças muçulmanas e afro-brasileiras ou outras similares, fazendo com que o "espiritismo" em crise se promova mais uma vez pelo vitimismo.

Eurípedes acredita que o ato "teria sido por intolerância religiosa", mas a verdade é que o ato foi apenas contra uma personalidade muito popular em um município. Como em toda declaração vinda de "espíritas", Eurípedes quis se jogar para a plateia na onda da intolerância religiosa, que deve ser esclarecida, pois não é todo ataque a uma religião que representa um ato nesse sentido.

A verdade sobre a intolerância religiosa é que as religiões mais atacadas são aquelas que estão associadas a expressões populares, como a umbanda, o candomblé e o islamismo, entre outros. Mas o "espiritismo" é uma religião aristocrática e há décadas não sofre a repressão que sofria da sociedade excessivamente moralista da primeira metade do século XX.

A comparação com o "funk carioca" - que também usa de argumentos vitimistas e triunfalistas semelhantes aos "espíritas", além de uma pretensa humildade - é ilustrativa. O "funk" também apela para a repressão às rodas de samba há cem anos para alegar vitimismo diante da suposta rejeição da sociedade atual, superestimada pelos funkeiros, porque eles também são blindados pelas elites do entretenimento, por empresas multinacionais e também pela Rede Globo de Televisão.

O "espiritismo" virou um "genérico" do Catolicismo. Tornou-se uma religião das elites, nas quais os maiores astros, os "médiuns" - que romperam com a função intermediária dos médiuns originais para se tornarem "sacerdotes" do "movimento espírita" - , estão associados a práticas de Assistencialismo (caridade de baixa eficiência e alta publicidade pessoal do "benfeitor") e a um aparato de belas palavras e outros apelos emocionais (Argumentum Ad Passiones, um tipo de falácia).

Enquanto os pobres são tratados de maneira paternalista e domesticada, feito cachorrinhos de família, típica da retórica "assistencial" copiada do Catolicismo mais conservador (simbolizado pela Madre Teresa de Calcutá), os "médiuns" e demais palestrantes "espíritas" fazem turnês para fazer palestras para ricos ou receber prêmios de autoridades e instituições.

Isso é algo que vai contra a imagem de "humildade" e "desapego material" tão associada aos "médiuns" e sua "bondade de novela da Globo", na medida em que os "humildes médiuns" colecionam medalhas e outros prêmios que simbolizam tesouros supérfluos na Terra, que glorificam demais por uma caridade sem muitos resultados porque, se assim fosse, o Brasil teria atingido um padrão escandinavo de qualidade de vida, tal é a autoproclamada grandeza dos "espíritas".

Voltando ao caso de Eurípedes Higino, há uma grande incoerência, como se vê na fotografia do alto, dele exibir as maquetes de Chico Xavier e de Allan Kardec, duas figuras de trabalhos bastante antagônicos. Não há como relativizar isso, porque a simples leitura dos livros de Chico Xavier revela um contraste aberrante e da mais extrema gravidade com os postulados espíritas originais.

E isso foi feito de propósito, pois devemos alertar que a deturpação do Espiritismo por Xavier (ou por Divaldo Franco e similares) não pode ser um ato acidental, feito sem querer ou pela falta de tempo para se dedicar ao estudo da teoria espírita original. Não há como fugir da responsabilidade negativa da deturpação.

Isso se deve pelos seguintes motivos. Chico e Divaldo deturparam o Espiritismo através de uma longa obra desenvolvida por várias décadas. Essas obras, em grande quantidade, tiveram enorme repercussão para um público gigantesco e tiveram grande popularidade. Não há como fazer isso sem ter a consciência exata dos atos.

Além disso, Chico e Divaldo continuaram promovendo igrejismo mesmo depois da promessa dada por eles de "aprender melhor a obra de Kardec". A desculpa das "palavras boas" e das "mensagens positivas" não os inocenta da desonestidade doutrinária e da traição dada ao pensamento espírita original, porque a disparidade de ideias e a traição intelectual não podem ser dissimulados por um palavreado bonitinho e agradável.

Imagine se alguém ensina errado por uma plateia enorme de alunos e durante anos e anos, com a exata consciência do que está fazendo, rompendo de propósito com o projeto pedagógico original? Esse mau professor será aprovado por isso e servirá de referência para o projeto educacional que ele tanto renegou? Ou será que algo que claramente foi feito de propósito pode ser considerado algo feito "sem querer?

É por isso que há uma grande disparidade entre as obras dos "médiuns espíritas" brasileiros e o pensamento original de Kardec. Seria muito bom que Eurípedes Higino se livrasse da maquete de Kardec, se ele quiser ter um mínimo de coerência. Até porque ele é filho adotivo e um dos herdeiros do "médium" que seguiu ideias contrárias aos postulados espíritas originais.

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