domingo, 12 de novembro de 2017

"Espiritismo" apoia o retrocesso da reforma trabalhista

PROTESTO ADVERTE QUE A REFORMA TRABALHISTA REPRESENTA O FIM DAS CONQUISTAS PREVISTAS PELA CLT.

Cada vez mais se afirmando como uma religião conservadora, o "espiritismo" brasileiro demonstrou seu apoio ao governo Michel Temer e aos atuais momentos de retomada conservadora após a queda de Dilma Rousseff.

Durante os primeiros meses do governo Michel Temer, cresceram os textos de várias páginas "espíritas" defendendo a aceitação da desgraça, a conformação (e até a adoração) do sofrimento humano, a renúncia aos desejos e até às necessidades humanas e apelos do mais puro cinismo moralista, como o tal "combate ao inimigo de si mesmo", uma contradição para uma religião que diz pregar o amor-próprio.

São textos difundidos na maior cara-dura, incluindo até corroboração de palestrantes "espíritas" a colegas que defendem a "adoração do sofrimento". Depois esses mesmos "espíritas" ficam apavorados quando são acusados de defender a Teologia do Sofrimento. Como bebês chorões, eles apelam para o morde-e-assopra: "Não, ninguém nasceu para sofrer! Não dissemos isso!".

Disseram, e com todas as palavras. A falta de firmeza dos "espíritas" revela uma contradição: o que um dia eles dizem de maneira taxativa, no outro hesitam e tentam desmentir o que haviam dito, de maneira medrosa e bastante oscilante. "Não, não é bem assim que eu quis dizer", argumentam, sem perceber que, na véspera, eles haviam sido bem claros em suas declarações.

E se juntarmos as peças no contexto em que tais mensagens foram difundidas, temos a seguinte conclusão: o "espiritismo" apoia Michel Temer e suas propostas reacionárias, oficialmente denominadas "reformas": reforma trabalhista, incluindo a terceirização total, e reforma previdenciária.

Os "espíritas" defendem os retrocessos sociais porque se afinam com essa pauta, lembrando que os chamados "médiuns" e outros palestrantes viajam pelo Brasil e pelo mundo, usando, em parte, o dinheiro da caridade, para fazer seminários não raro muito caros e restritos a temáticas bastante banais e, não obstante, ao arrepio dos postulados originais de Allan Kardec.

PARA OS RICOS, A FELICIDADE; PARA OS POBRES, A ACEITAÇÃO DO SOFRIMENTO

Observando bem, ocorre até mesmo um disparate. Enquanto, para os sofredores e desafortunados da sorte, geralmente pessoas pobres ou de classe média baixa, os "espíritas" apelam para a aceitação do sofrimento e até para gostar de sofrer e colecionar desgraças, para os ricos e privilegiados o discurso é diferente: falam em "meios de obter a felicidade".

Os "espíritas" tentam dissimular dizendo que os argumentos são "iguais para todo mundo" e até inventam a dizer de que "os ricos são os que mais estão sujeitos às provações humanas". Mas, na maioria dos momentos, os "espíritas" se contradizem, pois normalmente eles definem os ricos como "humildes que haviam feito o bem e voltam para reutilizar a fortuna" e os pobres como "antigos ricos que usaram mal seus recursos".

É um juízo de valor muito severo, e que revela a inclinação dos "espíritas" à Teologia do Sofrimento, corrente medieval do Catolicismo. A defesa da Teologia do Sofrimento por Francisco Cândido Xavier foi o exemplo mais explícito de defesa dessa corrente medieval, algo que nenhum católico propriamente dito chegou a defender com tanta veemência.

Chico Xavier, que muitos erroneamente definem como "progressista", era uma espécie de "AI-5 do bem". Com palavras dóceis - mas que, prestando bem atenção, são mais rudes e sem a meiguice que se atribui às mesmas - , ele sempre apelava para o masoquismo humano, dizendo para os sofredores aceitarem as desgraças em silêncio, sem reclamar e sem demonstrar sofrimento para outras pessoas.

Ou seja, para os sofredores, o "bondoso médium" apelava para que não só aceitassem o sofrimento, aguentando as desgraças em silêncio, a mercê de todo prejuízo, como pedia para os sofredores fingirem para todo mundo que tudo estava bem. Como se mentir fosse trazer alguma energia positiva para os sofredores.

REFORMA TRABALHISTA, SOB A ÓTICA "ESPÍRITA"

A chamada reforma trabalhista está de acordo com o moralismo severo e conservador defendido pelos "espíritas". Segundo eles, as restrições - definidas pelos críticos da proposta como "retrocessos sociais" - seguem a perspectiva de "abnegação, desapego material, humildade e perseverança", conforme vemos em certas propostas.

1) REDUÇÃO SALARIAL - Os "espíritas" defendem a redução dos salários e o fim dos encargos e garantias sociais como pretextos para o "desapego material" e a realização de princípios conservadores já defendidos pelo "movimento espírita", como a conformação com as grandes limitações sociais dos menos privilegiados e a sobrevivência "qualquer nota" das pessoas, sem muita qualidade de vida.

Aliás, a queda de qualidade de vida também é festejada pelos "espíritas" como um meio das pessoas aprenderem a "reavaliar seus desejos", além de treinar a submissão diante dos arbítrios diversos, como o aumento das tarifas a pagar.

 A medida também "estimula" o fato de eliminar "caprichos materialistas", pois, segundo os "espíritas", para que comer pão com manteiga tomando café com leite, se dá para comer pão sem manteiga com água (de torneira, porque água de filtro custa dinheiro). Se der problema, é só pegar um livro "espírita", que seus defensores dizem ser um "alimento para a alma".

2) SOBRECARGA DO TRABALHO - A reforma trabalhista prevê um teto profissional de até 12 horas por cada dia, mas liberará os patrões de ampliar a jornada de trabalho. Isso está de acordo com o "espiritismo" brasileiro, que sempre apela para que as pessoas vivam "para o trabalho", sem fazer distinção clara sobre o que é serviço (desempenhar uma atividade útil, mesmo que seja durante o lazer) e servidão (trabalho opressivo subordinado a um chefe moralmente abusivo).

Para os "espíritas", pouco importa se alguém trabalha 20 horas por dia, almoça por cinco minutos qualquer besteira alimentícia e recebe um "salário de fome". Desde que "mantenha fé em Cristo", toda desgraça é válida, até acima das capacidades humanas. O problema é arrumar tempo para fazer prece, com a mente dividida entre a oração e o trabalho a ser desempenhado.

O "espiritismo" já se declarou contrário à escravidão, nos tempos do doutor Adolfo Bezerra de Menezes, que havia sido abolicionista, embora sem muito destaque histórico. Mas hoje os "espíritas" pouco se sensibilizam diante de situações análogas à escravidão, conforme se observa em alguns pontos da reforma trabalhista, porque só veem a encarnação como uma trajetória de "muito trabalho" e acham que "quanto mais sacrifícios, melhor".

3) ATÉ GESTANTES PODEM TRABALHAR EM LUGARES PERIGOSOS - Os "espíritas" exaltam tanto o trabalho da maternidade, fazendo analogia ao "papel divino" de Maria, mãe de Jesus, mas como também defendem o "espírito de sacrifício pleno" das pessoas, pois, com base na Teologia do Sofrimento, "quanto mais sacrifícios, mais bênçãos", aceitam essa "combinação admirável e digna" do "sacrifício do trabalho" com o "sacrifício da mãe".

4) PREVALÊNCIA DO NEGOCIADO SOBRE O LEGISLADO NOS ACORDOS TRABALHISTAS - Os "espíritas" entendem essa tese como uma "excelente oportunidade" de patrões e empregados "se entenderem como irmãos", mesmo quando os patrões se encontram em vantagem social e seus interesses prevaleçam sobre os dos empregados, que, em tão grande desvantagem, podem ser até demitidos se não aceitarem as condições impostas pelos seus patrões.

5) INSTABILIDADE DO EMPREGO - Os "espíritas" acham ótimo que os empregados não tenham estabilidade no emprego. Primeiro, porque "desestimula a acomodação". Segundo, porque, sob a ótica "espírita", isso permite "maiores desafios" (embora os "espíritas" não vejam distinção entre "desafio" e "desgraça"). E, terceiro, porque, mediante uma abordagem moralista, os "espíritas" veem nisso uma forma de estimular a "perseverança pela fé", ainda que à mercê de interromper projetos profissionais de longo prazo por conta da demissão.

6) PEJOTIZAÇÃO - A chamada pejotização é a transformação da pessoa em "empresa" (no caso "empresa fantasma"). É um registro como pessoa jurídica (CNPJ), diferente do de pessoa física (CPF), um artifício que faz as pessoas serem empregadas de uma empresa inexistente, o que faz com que, se caso elas trabalhem numa empresa existente, elas o farão na condição de "terceirizadas".

Essa armação permite aos patrões não terem obrigações trabalhistas a cumprir, só dando uma remuneração precária pelo serviço terceirizado. Sindicatos denunciam essa manobra como um meio para precarizar o trabalho e desqualificar ainda mais os salários dos trabalhadores.

Os "espíritas", por sua vez, acham isso ótimo, porque a transformação do trabalhador em "empresa fantasma" é um "incentivo" ao "espírito de serviço", porque, aos olhos dos "espíritas", o empregado passa a ser "empreendedor de si mesmo", dando-lhe "coragem para novas aventuras profissionais".

CONCLUSÃO

Com esses argumentos acima apresentados, os "espíritas" revelam estarem afinados com o governo Michel Temer e com todo o contexto em volta dele. Já definiram o Movimento Brasil Livre como "exemplo de regeneração dos brasileiros", e já definem o apresentador Luciano Huck, defensor da "caridade" praticada pelos "espíritas" (o Assistencialismo), como alguém análogo às "crianças-cristais".

O "espiritismo" comprova, portanto, ser não uma religião progressista, mas uma religião conservadora que, em vez de cumprir a promessa de recuperar os postulados de Allan Kardec, acaba recuperando, isso sim, o "lixo" descartado pela Igreja Católica, que são os valores do Catolicismo jesuíta que prevaleceram no período colonial e se baseiam na matriz portuguesa, comprometida com valores medievais.

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